PSD quer atrasar saída de Rio. Candidatos ganham tempo
Um partido que tem fama de ser sanguinário, ganhou agora uma grande resiliência confrontado com a inesperada maioria absoluta do PS, que garante aos socialistas quatro anos confortáveis de poder. Este sábado em Barcelos, o Conselho Nacional do partido quer ouvir Rui Rio sobre o calendário que propõe para a sua saída de cena, sempre tendo por horizonte máximo, junho (ou não) como o ainda líder social-democrata assumiu publicamente.
É por isso que deste encontro do órgão máximo entre congressos, e que representa todas as tendências do partido, se espera que saia apenas uma deliberação para mandatar a Comissão Política Nacional para encontrar as datas das eleições diretas e do respetivo congresso e só depois reunir para as aprovar.
Fonte da direçãoassegurou ao DN que Rio não irá levar qualquer proposta de calendário de diretas ou congresso a Barcelos. E a votação de uma data não está incluída na ordem de trabalhos do CN.
Ou seja, a marcação do calendário eleitoral interno, ainda que vá ser debatida neste sábado, exigirá sempre um novo Conselho Nacional para votar os regulamentos das diretas e congresso, cuja elaboração é da responsabilidade da Comissão Política Nacional.
E porquê este estranho clima de pacificação interna? E depois de uma pesada derrota eleitoral? "É simples de explicar, mesmo que se apresentem argumentos diferentes. O horizonte de poder do PS de pelo menos quatro anos não faz ninguém internamente ter pressa de chegar ao poder no PSD. Serão anos de desgaste grande e apontam para uma liderança de transição", diz ao DN uma fonte social-democrata.
As distritais do partido, pelo menos 10, reuniram-se em Leiria (outras sete manifestaram concordância com o que foi decidido), na quinta-feira, para "refletir a situação do partido e o caminho a seguir".
E embora na discussão tenha havido divergências - há distritais como a de Viseu, liderada por Pedro Alves (apoiante de primeira linha de Luís Montenegro) que desejavam acelerar o processo de eleições internas -, a verdade é que transpareceu uma posição conjunta, que deve pesar hoje nas intervenções no Conselho Nacional.
Paulo Cunha, líder da distrital de Braga do PSD, uma das maiores do partido, partiu da crítica para a posição conjunta. Ao DN, relembrou que a reunião dos dirigentes distritais aconteceu porque "a direção devia ter promovido um encontro com as distritais, como mandam os Estatutos do partido, para analisar os resultados eleitorais e antes do Conselho Nacional. O que não aconteceu.
"Na reunião de quinta-feira foi manifestada a preocupação com a situação que o partido vive, mas também a convicção que existem condições para que consiga suplantar-se e retomar o caminho das vitórias".
Paulo Cunha admitiu que também foi discutida a "sucessão rápida" de Rui Rio, mas acabou "por ser consensual que se houver diretas em abril ou maio não faz assim tanta diferença". E "houve consenso generalizado também que devem ser criadas as condições para que a vontade do líder seja cumprida", disse. Ou seja, que o partido realize as diretas e o congresso no primeiro semestre do ano.
Alguns apoiantes de Luís Montenegro, que mostraram maior pressa na mudança de liderança, acabaram por não encontrar respaldo no antigo líder parlamentar do PSD e opositor de Rui Rio nas diretas de janeiro de 2020 que se tem mantido o tabu sobre uma eventual recandidatura à liderança. O silêncio é de ouro, tem sido o lema de Montenegro.
Mas há quem se interrogue: "O Luís Montenegro será mesmo candidato nestas condições?" Dúvida que não encontrou resposta mesmo após o encontro de Montenegro com Rio na semana passada no Porto.
Quem também se tem mantido em silêncio sobre uma eventual entrada na corrida à liderança do PSD, venha ela a acontecer quando acontecer, é Miguel Pinto Luz. O vice-presidente da Câmara de Cascais tem defendido, isso sim, que é tempo de reflexão e não de discutir quem se sentará no lugar de Rio.
A mesma postura tem Paulo Rangel - que não vai ao CN porque estará numa missão da presidência do PPE em Kiev, Ucrânia, e em Vilnius, Lituânia -, que defende que o partido tenha tempo para dissecar o que correu mal e apontar um rumo. Mas o DN sabe que continua a refletir "seriamente" a possibilidade de uma recandidatura à liderança, mesmo com o risco de ser de transição. E existe a convicção entre os seus apoiantes que mesmo que Luís Montenegro avance não há unanimidade nas estruturas que trave outra candidatura de ser bem sucedida.
Paulo Rangel
O eurodeputado social-democrata perdeu as últimas e recentes diretas para Rio, mas perante os resultados das legislativas está a ponderar "seriamente" recandidatar-se. Tem muitos apelos internos para que avance novamente para a corrida à presidência do partido.
Luís Montenegro
Esteve na primeira linha da oposição à direção de Rio e acabou por o enfrentar nas eleições internas de 2020, mas foi derrotado. Continua a manter o tabu sobre se é novamente a hora de tentar a sua sorte na liderança do partido. Teve o apoio prematuro de um dos braços direitos de Rio: Salvador Malheiro.
Miguel Pinto Luz
O vice-presidente da Câmara de Cascais também arriscou uma candidatura nas diretas de 2020 e não passou à segunda volta. Não diz se volta a arriscar, mas também nunca descartou essa possibilidade e tem ouvido apoiantes no partido.
Ribau Esteves
O presidente da Câmara de Viseu e antigo secretário-geral do PSD, da era de Luís Filipe Menezes, assumiu publicamente que está a ponderar uma candidatura. No partido diz-se que poderá estar aproveitar a brecha para uma liderança de transição, se outros recuarem.
Carlos Moedas
O presidente da Câmara de Lisboa é um dos nomes mais desejados para protagonizar uma candidatura à presidência do partido. Mas o antigo comissário europeu já disse que não está para aí virado, pelo menos neste tempo de travessia do deserto para o seu partido.