PSD faz pazes com antigo autarca e tenta a reconquista de Almodôvar

O PSD do Baixo Alentejo volta a apostar todas as fichas na reconquista da câmara de Almodôvar. Se não houver estrondosas surpresas em nenhum dos outros 13 concelhos do distrito de Beja, será este o único município em que os sociais-democratas poderão ter ambições
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António Sebastião foi quem, durante 12 anos, governou Almodôvar, em nome do PSD. Mas em 2013 abriu a porta ao socialista António Bota porque, abrangido pela limitação de mandatos, desentendeu-se com o seu partido, avançando antes como número dois numa lista de independentes.

As suas contas conduzem-no à vitória com maioria absoluta. Explica que Bota detém maioria relativa com dois eleitos, tantos quantos o movimento Independentes por Almodôvar, enquanto o PSD também tem um representante. Argumentos que levam Sebastião a acreditar que vai chegar aos três mandatos a 1 de outubro, diluindo os candidatos independentes na lista do PSD e partindo do pressuposto de que a tendência de voto se manterá igual à de há quatro anos. Juntos, Independentes por Almodôvar e PSD somariam 2901 votos em 2013, enquanto o PS teve 1761.

"Só podemos ir para ganhar, porque desta vez temos um partido unido e apresentamos as pessoas que o eleitorado conhece do trabalho que já realizámos", justifica convicto o candidato do PSD que, por enquanto, também veste a capa de independente. Ainda uma consequência das quezílias internas de há quatro anos.

A distrital "laranja" de Beja retirou-lhe a confiança política quando decidiu criar o movimento Independentes por Almodôvar, ao lado dos até então seus vereadores João Palma e Sílvia Batista. Deixariam os três de ser militantes do partido, juntamente com outros 23 filiados no partido que também receberam "cartão vermelho" do Conselho Jurisdicional Distrital de Beja por se candidatarem pelo movimento independente a vários órgãos autárquicos.

Mas lá seguiram viagem. João Palma encabeçou a lista à câmara, com António Sebastião em segundo, acabando por conseguir os tais dois mandatos que relegaram o candidato do PSD, Ricardo Colaço, para terceiro lugar. A diferença de quase menos 200 votos para os independentes e menos 400 para o PS levou o partido a repensar a estratégia e amolecer as relações com as figuras de peso almodovarenses.

"Foi a prova de que os partidos podem ser importantes para o eleitorado, mas nestes meios pequenos todos se conhecem e as pessoas acabam por votar nos seus candidatos", sublinha António Sebastião, que passou pela experiência de ter sido, durante vários anos, o único autarca social-democrata a romper a hegemonia de PS e CDU no Baixo Alentejo. Hoje os comunistas são "donos" de oito municípios (Alvito, Barrancos, Beja, Cuba, Castro Verde, Moura, Serpa e Vidigueira) e o PS de seis (Aljustrel, Almodôvar, Ferreira do Alentejo, Mértola, Odemira e Ourique).

A cisão entre Sebastião e o PSD deu-se após a formação da lista independente em 2013, que o ex-presidente do município resolveu criar por discordar do nome imposto para encabeçar a candidatura dos sociais-democratas. Sebastião queria João Palma, que tinha sido o seu vice-presidente, mas os dirigentes de Beja preferiram Ricardo Colaço.

"Era importante apostar num projeto de continuidade, porque fizemos muitas coisas em 12 anos e deixámos tantas outras bem encaminhadas", explica António Sebastião, que, após "fumar o cachimbo da paz" com os dirigentes baixo-alentejanos, até já admite voltar a filiar-se no PSD, tendo aceitado Colaço para seu número dois em nome da ambicionada união à direita.

E, sim, houve negociações, admite, "como é comum nestes processos", reconhece, insistindo que "nem sempre há consensos. Tem é de haver o consenso mais alargado possível", ressalva, para voltar a disparar a quem comanda o destino da autarquia: "O que interessa é que Almodôvar não continue parada no tempo. Não acontece nada aqui sem ser festas com custos elevados."

Mas o cabeça-de-lista do PSD vai ter pela frente um candidato habituado a combates políticos, cedências e acordos possíveis. António Bota passou por tudo isto durante estes quatros anos em que presidiu ao município em minoria, admitindo ter criado uma espécie de imunidade à chuva de críticas lançadas amiúde pela oposição.

"Tive logo de arranjar um parceiro político (vereador do PSD) para conseguir maioria, até porque as pessoas que estavam na oposição tinham trabalhado 12 anos na câmara e era necessário travá-los para colocarmos o nosso projeto em prática", diz, recordando que, para não deixar nenhum flanco, investiu alguns dias no estudo de todos os dossiês municipais. "Fui tão criticado por tudo o que fazia, que até enfrentei algumas pessoas que trabalhavam na câmara e que apoiavam o anterior executivo", insiste Bota, que aos poucos se foi libertando da pressão.

Quatro anos depois garante que ganhou a pulso a confiança dos munícipes e que representa hoje a "nova geração de autarcas", apostando no trabalho de "proximidade", congratulando-se com os resultados obtidos na "ação social, apoio a jovens, início da universidade sénior para quase 400 idosos". Não perde de vista a comparticipação atribuída à natalidade para tentar combater a desertificação que atravessa o concelho e espera estar mais quatro anos na presidência para concluir a creche e transformar em novas as casas velhas do centro da vila para vender a jovens casais por preços simbólicos. Também promete uma zona industrial e plataforma logística junto à autoestrada A2, que cruza o concelho entre Lisboa e Algarve.

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