PSA Mangualde pronta para voltar à produção. Fomos visitar a fábrica
Não faltam cruzes ao pé da entrada da fábrica de carros de Mangualde do grupo Peugeot-Citroën (PSA). Indicam a distância de segurança que os cerca de 1000 operários da empresa vão ter de manter assim que for retomada a produção na segunda maior fábrica de automóveis em Portugal. O regresso ao trabalho ainda não tem data marcada mas está tudo a postos para que a produção regresse, conforme o DN/Dinheiro Vivo constatou esta terça-feira numa visita aberta à comunicação social.
A PSA Mangualde já acionou um plano com mais de 100 medidas para que o regresso à produção seja feito com toda a segurança. Embora haja condições sanitárias, a reabertura da fábrica também depende "da liberdade que as autoridades de cada país derem às empresas de retomar a produção industrial e comercialização de veículos", assumiu o diretor de comunicação e relações institucionais da PSA em Portugal, Jorge Magalhães. As medidas vão ser implementadas pelo menos durante oito semanas; depois disso, serão reavaliadas.
O protocolo de medidas foi desenhado em conjunto com as autoridades de saúde locais e a comissão de trabalhadores, foi inspirado nas normas implementadas nas fábricas da PSA na China e foi validado pelos escritórios centrais do grupo automóvel francês.
Os operários já foram informados sobre as novas regras por e-mail ou por carta. Vão receber também uma embalagem de 100 ml de álcool-gel para uso pessoal, com limitação de 5 ml por dia para evitar irritações na pele.
Sem se comprometer com a data do regresso à produção, a empresa admitiu que o regresso será feito de forma "gradual". Quando isso acontecer, vai haver apenas um turno de produção, com 300 pessoas, o mesmo número que era aplicado antes de a pandemia obrigar ao encerramento da linha de montagem, em 18 de março.
Desde então, ficaram estacionadas dezenas de unidades de veículos comerciais como Citroën Berlingo, Peugeot Partner e Opel Combo, que ainda não tinham percorrido toda a linha de montagem. Habituada a produzir 336 carros/dia (média superior a 100 unidades por turno), a fábrica também admite uma diminuição da produtividade nos primeiros dias após a reabertura da empresa.
Assim que voltarem ao trabalho, os perto de 1000 funcionários da PSA Mangualde vão ter de cumprir uma nova rotina diária. Assim que se levantarem, terão de medir a temperatura do corpo e registar tudo numa folha. Também terão de sair de casa já fardados, com a própria comida e bebida. Apenas os funcionários da pintura não têm de vir já fardados. No caminho para a fábrica, não podem partilhar a boleia com mais de duas pessoas, tendo de se sentar no banco de trás do lado oposto do condutor.
Assim que chegam à fábrica, os operários são sujeitos a uma medição individual de temperatura e só poderão entrar nas instalações se a temperatura do corpo for inferior a 37,5 graus - quem apresentar uma temperatura igual ou superior terá de passar para uma sala própria. Cada operário recebe duas máscaras e óculos de proteção/viseira.
Já no interior da fábrica, os trabalhadores têm de cumprir a distância de segurança, superior a um metro. As cruzes pintadas no chão fazem lembrar os triângulos das autoestradas e estão espalhados por toda a unidade de produção.
As reuniões diárias de produção também estão suspensas e os vestiários apenas podem ser utilizados pelos operários da área da pintura. Tendo isso em conta, há cabides espalhados pela fábrica onde os funcionários de cada secção podem deixar a sua roupa.
A PSA Mangualde também criou percursos próprios para não haver cruzamento de trabalhadores. Há escadas próprias para quem quiser subir e outras escadas para quem precisa de descer. Se isso não acontecer, quem está à espera para subir terá de aguardar a descida do colega de trabalho numa zona própria, e vice-versa.
Para evitar ao máximo um eventual contágio, foram desligadas as máquinas de venda de comida e bebida, o Multibanco e os bebedouros. Também existem mais paragens para que cada trabalhador possa limpar o posto de trabalho. Se os operários não conseguirem evitar a proximidade na linha de montagem, é possível acionar uma corda ("andón"), que suspende a produção pelo tempo que for necessário.
A hora da refeição foi alargada, para evitar o período mais crítico de concentração. Antes de entrarem na cantina, os operários deixam a máscara colocada no início do turno e têm de desinfetar as mãos. Os colegas não podem ficar sentados frente a frente nem ter alguém imediato ao lado. Numa mesa de seis pessoas, só se podem sentar três.
Depois da refeição, é posta a segunda máscara do dia e o turno é completado. Quem não conseguir evitar as boleias com mais de duas pessoas pode pedir mais duas máscaras à chefia. Já em casa e antes de dormir, o trabalhador tem de voltar a medir a temperatura.
A PSA Mangualde é a segunda maior fábrica de automóveis em Portugal, tendo produzido 77 606 unidades em 2019.