PS precisa de surpresas para recuperar bastião

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Com alguns indicadores que a afastam, no ranking das cidades portuguesas, do terceiro lugar, Coimbra mantém, no entanto, esse estatuto e continua a ser alvo privilegiado das atenções partidárias.

Não tem, naturalmente, o impacto de Lisboa e Porto, mas tanto nas campanhas como na contabilidade eleitoral assume um papel relevante, servindo, designadamente, para atenuar desaires ou sucessos, por vezes sublinhados com as opções globais do distrito.

Seja qual for a perspectiva - importante centro urbano ou região -, Coimbra, ela própria, ou o distrito, é terra laranja (maioria em 12 dos 17 municípios). Mas só desde 2001, pois mesmo quando, na cidade, em dois mandatos o PS não resistiu ao PSD/CDS/PPM, manteve maioria no distrito e a sua sede não perdeu, apesar disso, o epíteto de socialista. Há quatro anos, o bastião PS caiu. Afogou-se na onda laranja, culminou um processo iniciado com a perda de emblemáticos concelhos, como Soure (até então classificado como o "mais socialista da Europa") ou Figueira da Foz (em 1997 pela primeira vez, trocou a rosa por Santana Lopes) e Coimbra.

A reconquista de Soure é, agora, apontada como provável - o laranja João Gouveia, ao fim de três mandatos, virou "independente, com apoio do PS" e parte à reconquista da câmara. E outros concelhos, como Penela ou Mira (uma lista de independentes ameaça enfraquecer o PSD), também poderão, embora em cenários bem diversos, seguir o exemplo, mas serão, tudo indica, insuficientes para recuperar o mapa distrital perdido. E mesmo que, na divisão geral do distrito, o PS chegue de novo à maioria, podem continuar a faltar-lhe os dois maiores centros Coimbra e Figueira.

Numa e outra cidades, o PSD recandidata os actuais presidentes, reeditando, na primeira, a alian- ça com centristas e monárquicos e na Figueira, de novo sozinho. Em Coimbra, a coligação, liderada por Carlos Encarnação, acredita ser capaz de conquistar o poder, pela primeira vez, em dois mandatos consecutivos. O PS justifica o seu optimismo, precisa e designadamente, com o facto de o seu adversário só ter chegado à maioria episodicamente. As convicções de ambos não têm evitado, todavia, trocas de, por vezes violentas, acusações e uma autêntica "guerra" de consultas de mercado e sondagens. Mas se é verdade que a tradição parece jogar a favor de Vítor Baptista (PS), não é menos certo que a cidade tem manifestado acomodamento à "ordem estabelecida", dando razão a quem defende que, aqui, até os progressistas são conservadores.

Embora se adivinhe uma disputa essencialmente protagonizada por estas duas forças, convém não esquecer o papel de outros concorrentes, que podem ser determinantes para a alteração da actual distribuição de lugares (e formação, após as eleições de uma maioria) - PSD/CDS/PPM têm seis eleitos, PS quatro e CDU um.

O comunista Jorge Gouveia Monteiro, vereador a tempo inteiro com o pelouro da Habitação, recandidata-se e julga segura a reeleição, podendo mesmo a vir a ser determinante no próximo executivo. E parece estar bem colocado para isso, mas poderá não ser o único. O BE, que nas legislativas de Fevereiro alcançou, no concelho, o terceiro lugar (8,7 por cento dos votos, contra 8,4 da CDU e 6,6 do CDS), também tem razões para acreditar na eleição de Marisa Matias. Ao contrário, admissivelmente, de PCTP/MRPP (João Cardoso) e PH (Ana Pinto), que há quatro se quedaram pelos 0,8 e 0,3 por cento, respectivamente.

Na Figueira da Foz, Duarte Silva (PSD) recandidata-se e a sua vitória acabaria com a ideia de ter sido eleito, há quatro anos, à "boleia" de Santana Lopes, seu antecessor e primeiro presidente da câmara não socialista. O PS, depois de algumas conflitos internos, suscitados pela escolha do seu candidato, optou pelo médico Vítor Sarmento (em prejuízo do ex-eurodeputado Luís Marinho) e garante, agora, estar unido e capaz de reconquistar a autarquia.

Defensor da limitação de mandatos, Jorge Catarino, que em 1997 ganhou por três votos Cantanhede ao PS, não se recandidata, comprometendo a vitória, que, com ele, era tida como certa para os sociais-democratas, que avançam com João Moura. Para recuperar o terceiro maior centro do distrito, o PS propõe Rui Crisóstomo, que perdeu a autarquia para Catarino.

No interior do distrito, as atenções (e dúvidas) concentram-se sobretudo em Arganil, onde o presidente, o socialista Rui Silva, não concorre. O PS, cuja lista é encabeçada por António Simões, reconhece as dificuldades em manter- -se numa terra que, depois de ter trocado o CDS pelo PSD, só por duas vezes se deixou seduzir pela rosa. À semelhança da vizinha Oliveira do Hospital, que só foi de maioria PS uma vez e, então, com o historiador César Oliveira, história que faz com que o PSD acredite na reeleição de Mário Alves.

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