PS não pode ficar de fora da discussão sobre a despesa

O economista Eduardo Catroga defende que o PS não pode afastar-se da discussão sobre a despesa e que a 'troika' devia exigir a cada revisão do memorando a assinatura do PSD, CDS-PP e PS para desembolsar cada 'tranche'.
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"O Partido Socialista (PS) disse logo que não, deram-lhe logo um primeiro pretexto e saiu. O PS não pode estar fora da discussão se a despesa pública está exagerada ou não. (...) O PS aproveitou a pouca habilidade do Governo em setembro com a questão da Taxa Social Única para saltar do barco, o barco que ele afundou. Quem afundou o barco não pode dizer que não tem nada a ver com isto", afirmou o mentor do programa do PSD, em entrevista à Lusa.

O economista considera também que o CDS-PP tem tido um pé dentro e outro fora da coligação e diz que se fizesse parte do Governo, fazia com que a 'troika' exigisse que a cada desembolso fosse necessária a aprovação de todos os que assinaram o acordo inicial.

"Se fosse Governo tinha desenvolvido com a 'troika' uma estratégia em que a 'troika' exigia que para o levantamento de novas 'tranches' todos aqueles que assinaram [o memorando] no momento zero, tinham de assinar no momento 1 e no momento 2", assegura o antigo ministro das Finanças de Cavaco Silva.

Eduardo Catroga reconhece que o partido liderado por António José Seguro já está fora desta discussão, mas critica o partido por não apresentar uma linha estratégica alternativa, de não explicar como financiaria o crescimento que tem exigido e diz que vai ser preciso um "facto político novo" para que o PS volte a esta discussão.

"António José Seguro há um ano dizia que queria mais um ano. Mais um ano foi dado. Agora queria mais outro ano, mais outro ano foi dado. Portanto, o PS, no fundo, também não apresenta uma linha estratégica alternativa, fala em crescimento mas não diz como, nem como financiar esse crescimento. Esse crescimento, o financiamento desse crescimento, exige uma renegociação com os parceiros europeus e essa renegociação com os parceiros europeus só é viável num quadro de um Governo forte que tenha o apoio dos parceiros", considera.

Para haver retoma da economia, para haver condições para recuperar a sustentabilidade das finanças públicas, os três partidos do arco do poder teriam de acordar sobre um conjunto de pontos fundamentais e o momento para isso acontecer perdeu-se, diz o economista, considerando que para recuperar o PS para esta discussão, diz o ex-governante, "vai ser preciso um facto político novo" que não adianta.

O momento ideal tinha sido ao final de um ano, quando o Governo deveria ter renegociado o programa, ou quando emitiu dívida pública a cinco anos, altura em que devia ter começado a apresentar uma estratégia de médio/longo prazo e apresentar propostas que até poderiam ultrapassar a atual legislatura.

Ainda assim, Eduardo Catroga diz não ter dúvidas de que para a refundação ou aperfeiçoamento do memorando, como lhe chama, é necessário o apoio dos três partidos que assinaram o memorando inicial e diz que se estivesse no Governo, ele poderia mesmo propor ao PS que integrasse o Governo, já que o programa que está a ser executado, a seu ver, é o programa negociado pelo PS.

"Se estivesse no Governo até convidada o Partido Socialista para, ou apoiava [o Governo] no Parlamento, ou até podia ir para o Governo, na medida em que estava a ser executado o programa do Partido Socialista, porque foi ele que negociou com a 'troika'", diz.

Sobre a redução da despesa, Eduardo Catroga diz que é uma questão aritmética e que o valor em si até deverá ser muito superior aos 4 mil milhões de euros que se têm falado, e que o que se pode discutir é o ritmo desse ajustamento.

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