Umas miniférias na neve devem ser sempre sinónimo de precaução. Não só pelas quedas e pernas partidas mas sobretudo por causa da pele e dos olhos, muito afectados pelo frio, sol e radiação ultravioleta, mais ofensiva devido à altitude da montanha. Rita Santos, de 31 anos, não vai esquecer a semana que passou, há quatro anos, com mais três amigas na estância de esqui de Pas de la Casa, em Andorra. A falta de protecção solar logo no primeiro dia provocou a todas um enorme escaldão. Mas uma delas ficou mesmo com queimaduras e teve de fazer tratamento com cortisona ."Apanhámos as quatro um escaldão brutal na cara. Chegámos a Andorra sem protector solar. A ideia era comprar lá, mas como o dia estava nublado e a nevar achámos que não havia problema. Fartámo-nos de andar nas pistas, queríamos era aproveitar", lembra Rita, que trabalha na área financeira. No final do dia, tinham a "cara inchada e a pele vermelha". Para as quatro amigas foi uma experiência que serviu de emenda. "Eu tratei- -me com cremes hidratantes o resto da semana, mas uma das minhas amigas teve mesmo necessidade de ir à farmácia comprar cremes à base de cortisona. Ela, sim, ficou muito mal, a cara inchou de tal forma que até ficou um pouco desfigurada e teve de usar máscara o resto da semana.".Não foi a primeira vez que iam de férias para a neve, e também não foi a última. "Sabíamos dos riscos que corríamos, mas facilitámos na mesma. A partir de então, tenho muito mais cuidado. Nunca mais me expus da mesma forma", diz. . "Uma ida à neve requer cuidados especiais e não se pode facilitar de maneira nenhuma", alerta o dermatologista Fernando Guerra. Por causa da altitude, os raios solares chegam mais rápido e com mais intensidade à terra. Por outro lado, a neve e o gelo também têm a capacidade de os reflectir. .Snowboarders e esquiadores têm, por isso, de ter o dobro de cuidado. "Numa estância de esqui, as queimaduras na cara e no pescoço são terríveis devido à radiação directa e reflectida. Devem usar-se sempre protectores solares de índice elevado, nunca abaixo do factor 40", indica a dermatologista Vera Monteiro Torres. Além do rosto, os mesmos cuidados devem repetir-se nas orelhas e lábios, com aplicação de um batom protector. .Além dos cuidados com o sol, a protecção do frio é fundamental. Roupa quente e impermeável ajudam a minimizar os riscos de lesão, de aparecimento de frieiras nas mãos e pés, e de hipotermia. "O frio pode criar fissuras na pele. Às vezes é mesmo necessário usar passa- -montanhas, um tipo de gorro em que apenas os olhos ficam descobertos", diz Fernando Guerra. .Foi o que Filipe Vaz, de 33 anos, não fez. Frequentador assíduo das pistas de esqui em Portugal e na Europa, o professor de Educação Física não se lembra de ter passado por uma situação idêntica. "No dia em que fiquei pior foi em Chamonix, em França, onde estavam 6 graus negativos, com ventos de 80 quilómetros por hora. Fiquei com a cara toda queimada", conta Filipe. ."Muitas pessoas pensam só nos efeitos do sol, mas a verdade é que a desidratação da pele também é grave e é provocada pelo ambiente seco e frio da montanha." "As temperaturas e a humidade muito baixas e o grande contraste do frio da rua para casas muito aquecidas, geram ambientes muito secos", completa Vera Monteiro Torres. .A pele deve ser hidratada, sobretudo no rosto, orelhas, mãos e lábios. "Devem usar--se cremes hidratantes que funcionem ao mesmo tempo como uma barreira para a penetração do frio", aconselha Fernando Guerra, acrescentando: "Devem ser aplicados na pele várias vezes ao dia, sobretudo quando o exercício físico tende a fazer-nos suar." .Mas há grupos de risco que têm de ter mais cuidado, como doentes com eczemas ou diabéticos. "São pessoas com tendência para pele seca, que devem ter cuidados especiais e reforçar a hidratação", lembra Vera Monteiro Torres. .A mais de 1500 metros de altitude, a protecção dos olhos é essencial. "É fundamental usar óculos de sol com lentes polarizadas", que diminuem a luz reflectida e aumentem o contraste dos objectos, para evitar queimaduras na retina, diz o oftalmologista Luís Gouveia Andrade. A armação deve ser larga e acompanhar a curvatura da cara "para que os raios ultravioleta não entrem". Se forem grandes, os óculos protegem contra lesões oculares provocadas pelas quedas. "Quando os olhos secam por causa do frio, nada melhor do que soro fisiológico", termina Gouveia Andrade.