Prostituição pilar da família

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Uma "ninfa", uma "nereide", uma "dríade", escreveu Valérie Tasso no seu livro de estreia, que escandalizou Espanha. "Sou muito generosa", sorri a autora de Diário de uma Ninfomaníaca, antes de ir apanhar o avião. "Você é uma mulher de coragem", felicita-a uma participante no congresso do Espaço t.

Licenciada em Gestão de Empresas e Línguas Estrangeiras, filha de abastadas famílias francesas e alta funcionária em empresas multinacionais, experimentou o universo da prostituição de luxo e, agora, apesar da incompreensão familiar, assume aquela faceta que relata na sua autobiografia.

No Porto, sustentou mesmo que, actualmente, "a prostituição é o pilar fundamental da família tradicional". Porquê? "O homem que frequenta os prostíbulos não se atreve a pedir à mulher ou à namorada que façam certas práticas sexuais". Alguns dos seus clientes, conta a autora do best-seller (em Portugal já tem uma segunda edição), diziam-lhe que "tinham uma relação fantástica", mas jamais seriam capazes de certas fantasias eróticas com a "mãe dos seus filhos", não fosse ela pensar que estava a ser tratada como puta.

Valérie Tasso anda a lutar contra "o estigma da prostituta", alegando que o homem que paga para ter prazer, "quando sai, volta a ser um pai de família", enquanto a mulher com quem praticou sexo, ao transpor a mesma porta da rua, ainda não tem o direito de ser reconhecida sem o seu fato de trabalho.

A autora, que nem "tinha perfil para ser prostituta" - "entrei por curiosidade e para me conhecer melhor; não por necessidade de dinheiro para comer" -, alega que as mulheres que conheceu na prostituição são umas "altruístas", que lhe merecem "o maior respeito".

Além disso, fica cheia de raiva porque uma mulher que se tenha dedicado àquela profissão durante um período da sua vida tem de ficar para sempre com essa "etiqueta" colada. E dá o seu próprio exemplo "quando vou à televisão, sou apresentada como 'Valérie Tasso, ex- -prostituta de luxo'; e porque não como 'licenciada em Gestão' ou 'escritora' ou 'colaboradora da comunicação social'?" - estranha.

Depois da estreia literária - em que conta como sempre apreciou o sexo, conquistou os homens que desejava e, aos 28 anos, foi experimentar o mundo da prostituição -, a francesa que se fixou em Barcelona lançou um segundo livro igualmente polémico, intitulado Paris, La Nuit, que deve ter edição portuguesa até ao fim do ano.

Desta vez, sempre liberal e contestatária dos preconceitos, descreve uma relação lésbica com uma amiga parisiense. "Agora, as pessoas perguntam-me 'Mas afinal tu gostas de tudo?' E porque não?!", vai retorquindo aquela mulher de ar elegante, que se define a si própria como "nereida" ou "dríade".

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