Propostas e rivalidades no G20
Com a ausência dos presidentes da Rússia, China e México, serão Joe Biden e Narenda Modi as personalidades centrais da reunião máxima do G20, sábado e domingo em Nova Deli, até porque ambos anunciaram importantes propostas.
O norte-americano, cuja delegação inclui a mundialmente influente secretária do Tesouro, Janet Yellen, vai propor a reforma do Banco Mundial e o reforço da sua capacidade financeira, com o declarado objetivo de se contrapor aos empréstimos chineses, considerados pela Casa Branca como "coercitivos e insustentáveis". Na mesma linha proporá de novo o alívio de dívidas dos países de baixas rendas.
A proposta de Modi pode tirar benefícios da de Biden, na medida em que triplicar a produção mundial de energias renováveis à escala global até 2030, requer financiamentos consideráveis. Pode não ser a única dificuldade deste projeto. Se as mesmas posições da reunião dos ministros da Energia, em julho, se mantiverem, grandes produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Rússia vão opor-se, insistindo mais no princípio da captura de carbono.
O FMI e o Banco Mundial prepararam um documento onde assinalam riscos de fragmentação geoeconómica mundial, aumento das dívidas e desastres naturais extremos, apelando a esforços do grupo no sentido da recuperação do crescimento.
O G20 representa 85% do PIB mundial e dois terços da população mundial, neste caso em virtude de a Índia e a China. No agregado de todos esses fatores, constitui hoje a principal assembleia económica do planeta, até por colocar frente a frente países com grandes e perigosas rivalidades.
A Rússia estará representada, uma vez mais, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e a China pelo seu primeiro-ministro.
Outros dois países com perspetivas de influência internacional podem também chamar a atenção, devido às suas dimensões e potencial: Brasil e Indonésia. Aliás, o Brasil vai assumir a presidência rotativa do grupo e é já uma das maiores potências agroalimentares do mundo, ferramenta de primeiro plano na atual conjuntura. Tanto Brasil como Indonésia, possuem meios para atingir autossuficiência energética e têm os seus PIB entre os 12 mais altos do mundo.
É provável que a União Africana venha a ser integrada no grupo como membro permanente e não apenas convidado, ou seja, na mesma situação da União Europeia, ficando a interrogação de se o grupo passará a denominar-se G21, G20+1, ou outra fórmula.
Para diversos países é essencial evitar que o G20 se torne prolongamento da guerra da Ucrânia e não perca o foco na busca de novos equilíbrios socioeconómicos capazes de estimular um novo ambiente nas relações internacionais. Ainda assim, persiste a possibilidade de algumas delegações aproveitarem uma tribuna desta dimensão para autopropaganda político-militar ou marcar presença no saturado mercado dos planos de paz.
Neste sentido, têm impacto natural as questões da Ucrânia e Taiwan, mas também os exercícios militares indianos na zona dos Himalaias e adjacências, fronteiras com o Paquistão e China, iniciados segunda-feira passada e prolongando-se mesmo durante a realização do evento em Nova Deli.
Uma Terra, uma Família, um Futuro é o tema geral desta 18.ª reunião de chefes de Estado, de Governo ou seus representantes, considerado muito otimista e pacifista num contexto com altos ruídos de armas e de crise económica, no qual o G20 tem de provar, uma vez mais, a sua viabilidade e impacto.
Professor, escritor e investigador