Proposta de Kim Jong-un foi antecedida de contactos secretos

Negociações decorreram na China. Sinais de abertura do líder do regime de Pyongyang são os primeiros em vários anos.
Publicado a
Atualizado a

A sugestão feita pelo líder do regime norte-coreano, Kim Jong-un, no discurso de Ano Novo sobre a possibilidade de enviar atletas do seu país aos Jogos Olímpicos de Inverno, de 9 a 25 de fevereiro na Coreia do Sul, não surgiu do nada - foi antecedida de contactos entre Seul e Pyongyang.

Fontes governamentais sul-coreanas, citadas ontem na edição do jornal Korea JoongAng Daily, revelaram ter sido tomada a iniciativa de sugerir a Pyongyang participar nos Jogos de Inverno que se realizam na localidade de PyeongChang, província de Gangwon, e em outros dois locais da mesma província. Os contactos iniciais foram protagonizados por elementos do Ministério para a Unificação e por responsáveis dos serviços de informações, a que se seguiu um encontro entre o governador da província onde decorrem os Jogos e o dirigente da associação para as relações desportivas entre o Sul e o Norte com um vice-ministro norte-coreano. Este encontro decorreu a 18 de dezembro, em Kunming, na República Popular da China, à margem de uma competição futebolística.

Segundo aquele diário, que ouviu fontes próximas do presidente Moon Jae-in, o encontro prolongou-se por duas horas e o governador da província sul-coreana ofereceu o transporte da delegação da Coreia do Norte por navio e propôs a realização de outras provas desportivas entre atletas de ambos os países. Ficaram acordados três jogos de futebol entre um clube de Gangwon e um outro norte-coreano, a 15 de janeiro na China, em Pyongyang em junho e na província sul-coreana em outubro.

Foi no seguimento destes contactos e após a intervenção na segunda-feira do líder máximo da Coreia do Norte, em que Kim sugeriu ainda um encontro "bilateral a curto prazo", que o ministro para a Unificação da Coreia do Sul, Cho Myoung-gyon, propôs ontem a realização de negociações formais para concretizar a presença da delegação de Pyongyang nas Olimpíadas.

Os contactos do governador de Gangwon e do elemento do governo de Seul não foram os únicos a realizarem-se entre representantes dos dois países. Ainda em dezembro, dois deputados do partido do presidente Moon Jae-in e o um membro do Comité Olímpico sul-coreano estiveram reunidos com o vice-ministro norte-coreano que encontrara dias antes o governador de Gangwon e o representante do governo de Seul. Novo encontro está agendado para dia 15, à margem do primeiro dos referidos três jogos de futebol entre as equipas dos dois países.

Este desenvolvimento assim como a aparente disponibilidade de Kim Jong-un em negociar com a Coreia do Sul - a primeira vez que o faz desde que o presidente Moon chegou ao poder em maio de 2017 - pode assinalar uma mudança na atitude de Pyongyang. O regime norte-coreano manteve uma atitude belicosa durante o mandato da presidente Park Geun-hye, até à sua destituição em março de 2017, intensificada com a chegada à Casa Branca de Donald Trump. Mesmo quando o líder sul-coreano fez uma oferta para negociações em julho de 2017, não houve qualquer resposta de Pyongyang.

O presidente dos EUA, que advoga uma linha dura na relação com Pyongyang, escreveu ontem no Twitter que as "sanções estão a produzir efeito" para definir as palavras do líder norte-coreano, mas acrescentou ser preciso "esperar para ver". Por seu lado, um ex-consultor de segurança nacional sul-coreano, Chun Yung-woo, citado pela Reuters, criticou a rapidez da resposta do governo de Seul, sugerindo que este pode "tornar-se vítima de uma armadilha" de Kim.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt