Elmano Costa está prestes a fechar as portas da organização que desde 1999 apoiava a comunidade portuguesa a participar na vida política dos EUA. "Mas já formámos outra", centrada na Califórnia e "com a ideia de influenciar leis e informar a comunidade", afirma ao DN.."Não temos os apoios financeiros para fazer o que fazíamos antes, mas vamos tentar fazer o que podemos com os meios que temos", diz o académico, presidente do Projeto Luso-Americano de Cidadania (PACP, sigla em inglês) - cujo óbito foi aprovado há meses e para o qual só falta concluir a parte burocrática..A nova estrutura chama-se Coligação Luso-Americana da Califórnia (CPAC, em inglês) e, a exemplo dos primeiros anos do PACP, terá apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e a nível local, refere Elmano Costa..As finanças levaram ao fim do PACP, que desde 2009 "nunca conseguiu ter fundos adequados" a partir dos EUA para compensar a redução dos apoios da FLAD e do Governo dos Açores. "Os donativos eram pequenos, 500 dólares [473 euros] de um clube, 1000 dólares noutro... não dava para continuar a fazer um bom trabalho" que exige "no mínimo" 100 mil dólares anuais (quase 95 mil euros), refere o ativista cívico..O PACP nasceu para promover a participação da comunidade portuguesa e luso-descendente - com particular destaque para os estados da Califórnia (CA), Connecticut, Massachusetts (MA), Rhode Island (RI) e New Jersey..James McGlinchey, norte-americano que fundou e presidiu ao PACP até 2009, diz-se "muito satisfeito" por conseguir que "muitas pessoas de idade se tenham tornado verdadeiros cidadãos americanos". Para o antigo diplomata, que trabalhou na embaixada dos EUA em Lisboa, "todo o voto dá respeito e dignidade... vota-se pela comunidade, que é o principal objetivo"..Nascido em Fall Rivers (MA) e neto de açorianos, o avô natural de Rabo de Peixe e a avó do Faial, Jim McGlinchey vai escrever um livro com base nas experiências do PACP: "Não foram só sucessos, às vezes não se ganha, mas estou muito orgulhoso" por um projeto que começou a germinar em 1995. "Perguntei o que poderia fazer", quando cerca de metade da comunidade não votava nem estava registada, e "Rui Machete [então presidente da FLAD] disse que era trabalho para uma década", recorda..Elmano Costa, da Terceira, revela orgulho nos resultados obtidos pelo esforço do PACP ao apoiar mais de meia centena de organizações: "Provámos que, quando os portugueses estão recenseados, votam em número superior aos americanos em geral. O que temos, ainda, é muita gente que não é cidadão americano ou não está recenseado e isso continua a pesar na comunidade.".Sem o PACP, "a única opção é voltar ao que existia, as comunidades de forma independente continuarem a fazer esse trabalho nas igrejas e nos clubes... sabemos que há pessoas que continuam a fazer esse trabalho, porque não há outra organização a fazer isso a nível nacional", lamenta Elmano Costa, que em maio celebrou os 50 anos da sua chegada aos EUA..Maria Fernanda Ricardo, que em 1975 deixou São Jorge, teve vários cargos no PACP - a que presidiu - a par do trabalho cívico em Santa Clara (CA), onde "10% a 12% da população" é de origem lusa. "Localmente continuamos, as pessoas vêem o valor do trabalho que é feito", pois até o chefe da polícia ou dirigentes escolares são eleitos..Para obter resultados, levando os portugueses a registarem-se e votarem, Maria Ricardo criou a chamada "Noite dos candidatos" - cujo sucesso a tornou numa das propostas com que o PACP apoiava as organizações locais e estaduais. "Tentamos não focar as perguntas só na comunidade portuguesa, porque os interesses são transversais". A iniciativa, realça, "cria respeito pela nossa comunidade, que é muito mais reconhecida pelos políticos locais" - e prova disso serão os luso-descendentes eleitos para o Congresso serem da CA: Devin Nunes, Jim Costa e David Valadão..David Andrade, recandidato à câmara de Seekonk (MA) em abril e natural de RI, 36 anos, garante que "o PACP vai fazer falta" apesar de haver "muitos luso-descendentes em cargos políticos" autárquicos e como congressistas e senadores nos dois estados. A presidir desde 2008 a um Comité de Cidadãos em RI, onde 11% a 14% têm origem portuguesa, esse filho de açorianos compatibiliza a ação política e cívica com o trabalho de arquiteto - e confessa "est[ar] a morrer de saudades" de regressar a Portugal.