"Projeto-medo." Osborne diz que votar no brexit é votar na recessão
"A um mês do referendo, os britânicos devem questionar-se: podemos conscientemente votar numa recessão?" A pergunta foi lançada pelo ministro das Finanças britânico, George Osborne, depois de divulgar as previsões económicas de curto prazo para o Reino Unido caso o brexit ganhe a 23 de junho. No cenário menos negativo, as previsões incluem mais 520 mil desempregados, um PIB 3,6% inferior ao esperado e uma inflação 2,3% superior. Os defensores da saída da União Europeia (UE) falam num "projeto-medo", mas as críticas ouviram-se até entre os defensores do "ficar".
O ex-mayor de Londres, Boris Johnson, principal voz do brexit, apelidou as previsões de "propaganda". Já Iain Duncan Smith, que deixou o governo em março em desacordo com o primeiro-ministro David Cameron sobre o tema, considerou que as previsões não são "uma avaliação honesta mas uma visão profundamente enviesada do futuro", na qual "ninguém deve acreditar".
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Do outro lado da barricada, a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon (que já ameaçou convocar outro referendo sobre a independência da Escócia caso o brexit ganhe). "Penso que o Tesouro, tal como fizeram com o referendo escocês, está provavelmente a exagerar o seu caso", disse, lembrando que poderá mesmo ter um efeito contraprodutivo. "As pessoas têm de ser experientes para ver através de algumas das alegações exageradas", acrescentou Sturgeon.
David Cameron, que esteve ao lado de Osborne, disse que votar para sair da UE seria pôr em causa toda a recuperação económica. "Seria como sobreviver à queda e depois correr novamente para a beira do precipício. É uma opção e autodestruição", avisou. O "projeto--medo", refere o editor de Economia da Sky News, Ed Conway, tem como objetivo levar os defensores do "ficar" a votar - normalmente os eleitores vão às urnas para defender a mudança e uma participação baixa pode significar a vitória do brexit.
Meio milhão de desempregados
O relatório analisa o impacto do brexit tendo em conta três fatores: o "efeito de transição", com o Reino Unido a ficar mais fechado ao comércio e aos investimentos; o "efeito de incerteza" nas decisões económicas dos empresários e das famílias; e o "efeito das condições financeiras", por causa da volatilidade dos mercados. "Através de uma combinação destes três fatores, são propostos dois cenários para os dois anos após o referendo: o de "choque" e o de "choque grave".
No primeiro caso, a previsão é para um PIB 3,6% inferior ao previsto caso o voto seja para ficar na UE. A inflação seria 2,3% mais alta, o desemprego afetaria mais 520 mil pessoas e os salários seriam 2,8% mais baixos. O preço das casas seria 10% mais baixo, a libra cairia 12% e a dívida pública subiria mais 24 mil milhões de libras. No pior cenário, o PIB seria 6% inferior ao previsto num voto contra o brexit, a inflação 2,7% superior, o desemprego atingiria mais 820 mil pessoas, os salários seriam 4% menores e os preços das casas 18% mais baixos. A libra cairia 15% e a dívida pública seria 39 mil milhões mais alta. Vários economistas aceitam um cenário negativo, mas não tão negro, lembrando que as previsões não têm em conta, por exemplo, uma intervenção do Banco de Inglaterra.
Este é o segundo relatório publicado pelo Ministério das Finanças britânico sobre o brexit. No mês passado, foi divulgada uma análise do impacto a longo prazo da saída da UE que concluía que em 2030 as famílias perderiam 4300 libras de rendimento por ano. Apesar de os números terem sido contestados pela campanha a favor do brexit, tiveram impacto junto dos eleitores - assim como alertas semelhantes da parte do Banco de Inglaterra e do Fundo Monetário Internacional. Ontem, nas casas de apostas britânicas, a probabilidade de o Reino Unido continuar na UE subiu de 83% para 85%. Já a probabilidade do brexit caiu de 23% para 20%.
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