Projeto do Health Cluster Portugal promete mudar financiamento da saúde mundial

Valorizar o resultado conseguido em vez do número de atos médicos é a base do Value-Based Healthcare, reconhecido pelo World Economic Forum e que irá trazer mudanças radicais ao sistema.
Publicado a
Atualizado a

As previsões apontam para que, em 2040, o mundo gastará cerca de 25 triliões de dólares por ano em saúde - mais 150% do que em 2014, afetando todas as regiões do mundo. E se o custo pudesse ser reduzido e em simultâneo se aumentasse a eficácia dos procedimentos, a qualidade de vida das pessoas e se melhorasse a experiência?

A premissa alimenta um projeto do Health Cluster Portugal, o Value-Based Healthcare, nascido há dois anos e que altera radicalmente os fundamentos do financiamento da saúde. Em vez da quantidade de atos médicos praticados - cirurgia, tratamento, consulta -, passa a basear o financiamento nos resultados, pesando fatores como "experiência do doente, material usado, técnica, custos envolvidos e melhoria do doente. É da triangulação de tudo isso que se constrói a perceção de valor", explica ao DV/DN Joana Feijó, diretora de negócio do Health Cluster Portugal e responsável do projeto.

Já em aplicação em duas áreas da oftalmologia - tendo sido analisados os resultados na cirurgia da catarata de mais de 11 mil pacientes em 12 hospitais nacionais (públicos e privados) e no tratamento de degenerescência macular da idade - o Value-Based Healthcare acaba de ser reconhecido pelo World Economic Forum como Hub Global de Inovação. Vê assim reconhecido o seu potencial para abrir caminho pioneiro à implementação de uma medicina baseada no valor para o paciente. E irá revolucionar a forma como se financia a saúde, privilegiando métodos mais eficientes e que respondem ao desígnio dos doentes - melhorar o mais possível de uma patologia. Mas também do Estado e dos privados, dos hospitais às seguradas: menos custos para mais qualidade e ganhos a longo prazo.

"Se dois doentes forem operados às cataratas com tecnologia diferente e materiais ou métodos distintos e um recupera 80% da visão e outro apenas 30%, tudo isso dá pistas sobre a qualidade do ato médico." E ajuda a estabelecer financiamento com base na qualidade do serviço, privilegiando melhores resultados, em vez de simplesmente custear a cirurgia pela cirurgia.

O World Economic Forum considerou o projeto VBHCAT, desenvolvido pelo Health Cluster Portugal, de tal maneira inovador e distintivo que o quer ver replicado noutros países, com impactos significativos no paciente, conferindo-lhe mais informação e dando-lhe a oportunidade de fazer escolhas mais informadas em relação aos seus cuidados de saúde.

O passo dado com este reconhecimento - "que muito nos orgulha e demonstra que estamos no caminho certo para acrescentar valor e fazer a diferença nos cuidados de saúde", reage Joana Feijó - permitirá alargar globalmente o programa, bem como introduzir já duas a três novas patologias por ano neste modelo de prática de excelência.

"Insuficiência cardíaca e diabetes poderão ser próximas apostas, já que são áreas em que há grande necessidade de atingir melhorias na relação custo/benefício", adianta a responsável. O objetivo é que, com este esforço global coordenado, se consiga um setor de saúde mais sustentável e igualitário, através da transição para sistemas de saúde baseados em valor.

O projeto-semente envolveu os Centros Hospitalares de S. João, do Porto, da Universidade de Coimbra e Lisboa Norte, o Hospital de Braga, o Instituto Gama Pinto, cinco unidades CUF e a Unidade de Oftalmologia de Coimbra, além de cinco empresas: Novartis, Alcon, Bayer, Edol.E e a startup Promptly.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt