Proibição de captura de bivalves leva familias à fome
"A fome começou no dia seguinte ao primeiro dia de proibição da apanha, porque são pessoas que ganham para o dia a dia, mas passadas três semanas as situações de fome já são mesmo muito preocupantes", disse à Lusa o presidente da associação de viveiristas da Ria Formosa (Vivmar), Américo Custódio.
Por seu turno, o presidente da cooperativa de viveiristas Formosa, Augusto da Paz, sublinhou que se repetem situações em que os empresários (viveiristas) adiantam dinheiro aos trabalhadores e fala também em situações de fome, sobretudo no concelho de Olhão.
As autoridades interditaram a captura de todas as espécies de bivalves em várias zonas da Ria Formosa a 21 de agosto e, no início de setembro, a interdição foi alargada a toda a Ria, da Quinta do Lago a Cacela Velha, devido à presença na água de toxinas que provocam intoxicação paralisante.
Segundo Augusto da Paz, a paragem afeta cerca de cinco mil profissionais que exercem atividade legalmente, mas o número pode alargar-se para o dobro, devido à existência de muitos indocumentados.
"Se juntarmos os agregados familiares, ficamos com ideia da quantidade de pessoas afetadas", acrescentou.
Contactados pela Lusa, os responsáveis do setor referiram que a interdição de apanha em águas interiores da Ria Formosa é relativamente rara, acontecendo mais frequentemente nas águas oceânicas.
Os viveiristas e mariscadores contestam a inexistência de mecanismos de proteção social para estas situações, o que deixa desprotegidas milhares de pessoas impedidas de trabalhar.
"Só ao fim de um mês nos é permitido requerer uma compensação salarial, que é baixíssima, pois não vai além de um terço do salário mínimo nacional", afirmou o presidente da Vivmar, que admitiu a possibilidade de várias formas de luta caso a situação se mantenha.
A ocorrência de episódios de presença de toxinas na Ria é normalmente associada ao aumento da temperatura e à falta de oxigenação das águas, fatores que permitem o desenvolvimento de fitoplâncton.