Progressos para combater a fome estagnaram em todo o mundo

O Índice Global da Fome 2023 concluiu que houve grandes progressos na redução da fome mundial entre 2000 e 2015, mas que foram feitos poucos progressos desde esse ano.
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Vários têm sido os esforços para erradicar a fome no mundo e cumprir assim o segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, no entanto, estes progressos estagnaram. Esta é a principal conclusão do Índice Global da Fome 2023 que foi apresentado ontem em Lisboa pela associação Ajuda em Ação. Todos os anos este relatório explora um tema diferente e o deste ano é o poder da juventude na reforma dos sistemas alimentares.

O número de pessoas afetadas pela fome passou de 572 milhões em 2017, para 735 milhões em 2022. A multiplicação de crises e estagnação dos processos contra a fome contribuiu para que o progresso estagnasse. "Com apenas sete anos para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os impactos combinados das alterações climáticas, conflitos, choques económicos, a pandemia global e a guerra Rússia-Ucrânia exacerbaram as desigualdades sociais e económicas e abrandaram ou inverteram os progressos anteriores na redução da fome em muitos países", pode ler-se no documento. As estimativas do Índice Global da Fome indicam que há 58 países que não conseguirão reduzir a fome até 2030. No entanto, há sete que conseguiram reduzir significativamente a fome: Angola, o Chade, a Etiópia, o Níger, a Serra Leoa, a Somália e a Zâmbia. "A capacidade dos países para recuperarem dos choques depende em grande medida de fatores subjacentes como a fragilidade do Estado, a desigualdade, a má governação e a pobreza crónica", lê-se no relatório cujos resultados baseiam-se em dados de 2018 a 2022.

O Sul da Ásia e a África a Sul do Sara são as regiões do mundo com os níveis mais elevados de fome, tendo registado sistematicamente nas últimas duas décadas o mesmo resultado. O relatório refere que apesar de se ter registado progressos consideráveis entre 2000 e 2015, os progressos registados desde 2015 praticamente cessaram, refletindo a tendência observada em todo o mundo.

O Índice Global da Fome é uma ferramenta para medir e acompanhar de forma abrangente a fome a nível global, regional e nacional, e que se baseia em quatro indicadores: a subnutrição, a emaciação infantil, o raquitismo infantil e a mortalidade infantil. A emaciação infantil é a percentagem de crianças com menos de cinco anos que têm um peso demasiado baixo em relação à sua altura e o raquitismo infantil diz respeito à percentagem de crianças com menos de cinco anos que têm uma altura baixa para a idade.

"A insegurança alimentar e a desnutrição comprometem as oportunidades de vida dos jovens", afirma Johanna Braun, membro da organização alemã sem fins lucrativos Welthungerhilfe. Na América Latina e Caraíbas o índice de fome aumentou ligeiramente causando alguma preocupação.

Segundo duas autoras convidadas para o estudo, Wendy Geza e Mendy Ndlovu, os jovens sofrem com as falhas atuais dos sistemas alimentares e são eles quem os vão herdar com todos os seus problemas. Referem, no entanto, que a participação deste grupo na tomada de decisão para melhorar este sistema é limitada.

A apresentação do relatório contou também com uma mesa redonda sobre o objetivo de erradicar a fome até 2030, que contou com Mário Baudouin, diretor nacional e de programas da ONG Ajuda em Ação, Rui Oliveira, presidente do Conselho Nacional da Juventude e Cátia Rosas, vereadora da Câmara Municipal de Lisboa e embaixadora pelo segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, erradicar a fome.

Todos os presentes consideram que ainda é possível erradicar a fome até 2030, no entanto, reforçaram que é necessário manter os esforços. "Todos podemos fazer alguma coisa para atingir este objetivo. Podemos prorrogar esta data mas acredito que ainda conseguimos", afirmou Mário Baudouin.

Cátia Rosas fez questão de sublinhar que não há falta de alimentos, apenas falta de distribuição: "Os alimentos produzidos atualmente são suficientes para alimentar toda a população do mundo. No entanto, há falta de distribuição."

Rui Oliveira, do Conselho Nacional de Juventude considerou que a educação é um dos pilares essenciais para que todos no mundo tenham um acesso igual à alimentação.

Wendy Geza e Mendy Ndlovu sustentam que para os jovens serem capazes de agir na transformação dos sistemas alimentares é necessário investir em educação, formação técnica, igualdade de género, acesso a recursos e condições de trabalho justas.

sara.a.santos@dn.pt

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