Prognósticos só no fim do livro
As regras destinam-se a ser quebradas. Mesmo acarinhando esta tese subversiva, que permite destacar o nome de Patricia Highsmith, uma vez que a densidade das personagens e a tensão dos enredos lhe permitem denunciar o criminoso no princípio ou a meio das suas obras, sem perda de dinâmica e de atenção expectante do leitor, reconheça-se que o policial mais clássico costuma reservar essa sentença para as últimas páginas. De preferência, depois de conduzir quem lê a diversos becos sem saídas, a vários desfechos desmontados com requintes de malvadez por quem escreve. Nesse domínio, e porventura só nele, Moriarty, o livro agora publicado por Anthony Horowitz, com a aquiescência e o aplauso daqueles a quem cabe gerir os legados de Sir Arthur Conan Doyle e de Sherlock Holmes, não escapa a este padrão.
Durante mais de 250 páginas, o autor - responsável pela dezena de livros que trouxeram à vida Alex Rider, um espião juvenil, argumentista de várias séries britânicas de largo espetro, como Collision, Injustice, Foyle"s War ou Crimes de Midsommer - vai-nos levando de mansinho, entre episódios sangrentos, que incluem um ataque à bomba na sede da Scotland Yard, e comezinhos, como os da vida familiar de um dos "heróis" aqui presentes, o inspetor Athelney Jones. Depois... Depois, o crime seria mesmo contar como tudo pode mudar num só momento, privando os interessados de uma descoberta que, no limite, os levará a umas palmadas nas respetivas testas, tão lógica, quase óbvia, aquela se apresenta. Ora, em literatura policial, pior do que o criminoso só mesmo o desmancha-prazeres. Estou fora.
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