Profissionais liberais, solteiros e do Porto têm mais cultura financeira
Os homens solteiros, com cerca de 44 anos e curso médio ou superior, a viver no litoral ou no Grande Porto e que exercem profissões liberais, são os investidores com maior nível de cultura financeira. Este é o perfil do investidor típico português definido num estudo do Instituto Superior de Economia e Gestão, que conclui que "o nível geral da cultura financeira dos investidores individuais portugueses é baixo".
De acordo com o documento - elaborado por Margarida Abreu do ISEG e por Victor Mendes, director do gabinete de estudos da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) -, "dois em cada três investidores" mostram "um nível de conhecimento específico claramente insuficiente". Esta constatação surge no final de um trabalho que teve na sua base dois inquéritos feitos pela CMVM sobre as características do investidor português em valores mobiliários, sejam eles acções, obrigações, unidades de participação dos fundos de investimento, outros títulos ou derivados.
Na observação dos dados resultantes dos dois inquéritos, os autores do estudo concluem que "são os homens solteiros, com cerca de 44 anos e curso médio ou superior, a viver no litoral ou na região do Grande Porto e exercendo profissões liberais, os investidores que manifestam maior nível de conhecimento". Este perfil do investidor típico português (ver caixa) constitui a excepção a um panorama geral dominado pela "deficiente informação financeira dos investidores individuais portugueses".
Uma situação que representa um obstáculo ao normal desenvolvimento do mercado português e tem também um impacto negativo no conjunto da economia nacional. "Os mercados financeiros são tanto mais eficientes quanto mais capazes e informados forem os seus agentes", explicam Margarida Abreu e Victor Mendes. "A incapacidade individual de gestão financeira é, por exemplo, indissociável de problemas como a importância do crédito malparado ou de fenómenos como o pânico bancário ou ainda o desenvolvimento de actividades financeiras fraudulentas", acrescentam. Neste âmbito referem os exemplos recentes originados pelo "caso dos selos" da Afinsa e Fórum Filatélico.
Outros dos problemas levantados pela menor cultura financeira dos portugueses diz respeito à pressão que é exercida sobre as funções do Estado. "Uma sociedade onde os indivíduos são mais capazes de se autogerir e planear financeiramente a sua vida é uma sociedade que exige menos Estado-Providência e onde os problemas associados à transferência de riqueza intergerações não se colocam de forma tão acutilante", sublinha o estudo.
A conclusão de que os investidores portugueses apresentam "importantes deficiências ao nível da formação geral e do conhecimento específico dos mercados e produtos financeiros", é confirmada pelos dados sobre as escolhas financeiras dos investidores em Portugal. De acordo com números do Banco de Portugal, os portugueses tinham, em 2003, quase metade dos seus investimentos colocados em depósitos ou liquidez, sendo apenas ultrapassados pelos austríacos ou japoneses. Uma situação que, de acordo com o estudo, torna mais urgente "a promoção e o desenvolvimento de programas de educação financeira dos investidores (actuais e potenciais)". C