Professores de Português contra censura de obras literárias
Os professores de português condenaram hoje "o desprezo pelo real" e a censura de obras literárias, na sequência da polémica em torno de um livro de Valter Hugo Mãe, recomendado aos alunos.
"Vivemos num tempo em que a liberdade é ameaçada por esse mundo fora e é nestes tempos que o papel do professor se intensifica na luta permanente contra a hipocrisia, o preconceito e todas as formas de discriminação", afirmam em comunicado conjunto a Associação Nacional de Professores de Português (ANPROPORT) e a Associação de Professores de Português (APP).
Em reação às críticas sobre a inclusão do livro "O Nosso Reino" na lista de livros recomendados em leitura autónoma pelo Plano Nacional de Leitura, as associações defendem que é na escola, através dos professores, que começa a construção da verdadeira democracia, se derrubam "as barreiras sociais", e se expõem "as fragilidades de uma visão enviesada e preconceituosa da realidade".
As organizações de professores consideram que o descontentamento revelado por encarregados de educação de alunos do Liceu Pedro Nunes se fundamenta em "duas frases retiradas de contexto", que seriam bem compreendidas e até aproveitadas com fins pedagógicos, caso os críticos tivessem interpretado o texto, como se aconselha às crianças "contextualizando e analisando a obra como um todo".
A aplicar com coerência a recente polémica a opções programáticas, "seriam afastadas da disciplina, a título meramente ilustrativo, O Auto da Índia e o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, ou Os Maias, de Eça de Queirós", dizem os docentes.
Os professores defendem que não podem estar sujeitos a pressões, ideologias ou dogmas, devendo antes ensinar a pensar em liberdade sobre o mundo, que é, "em muitos casos de uma inominável beleza, mas em outros de uma crueza real".
O Nosso Reino" estava nas listas dos livros de leitura recomendada para o 3.º Ciclo do ensino básico, que abrange 7.º, 8.º e 9.º anos, ou seja, alunos com idades entre os 12 e os 15 anos.
Na segunda-feira passado, o comissário do Plano Nacional de Leitura, Fernando Pinto do Amaral, disse à Lusa que a obra sairá das leituras recomendadas no 3.º Ciclo e passará a constar apenas da lista recomendada ao secundário, a partir do 10.º ano.
O comissário argumentou que o livro entrou na lista do 3.º Ciclo "por lapso", já que originalmente tinha sido escolhido para o secundário.
Pais de alunos do 8.º ano criticaram a inclusão do livro no Plano Nacional de Leitura, por conter frases de cariz sexual.