Qual é a sua recordação mais antiga dos tempos de estudante?.A minha ida para a escola no primeiro dia e uma frase que o meu avô que me disse: "A partir deste dia nunca mais tens liberdade". Tinha seis anos e essa frase ficou para a vida. Fiz a primária em Vila Real, Trás-os-Montes, entre 1954 e 1958, na escola Conde de Ferreira. Nunca me esqueço que esperávamos pelo professor e, quando ele passava, estendíamos a mão na tradicional saudação romana ou fascista que era como se recebia o professor de acordo com as regras do ensino da época..Esse professor foi marcante ou nem por isso? .O meu professor de escola primária era uma personagem marcante... no sentido físico. Dava-nos palmadas regulares com uma régua grossa. Foi marcante nas minhas mãos. Mais do que isso não foi. Era o professor Pena. .E onde fez o liceu? .Fiz o liceu em Vila Real, entre 1958 e 1965 - chumbei um ano no final. Era o Liceu Nacional Camilo de Castelo Branco. .E nessa fase, teve professores importantes para o seu percurso?.Vários. Diria que há um professor de quem me recordo muito, de geografia, o professor Ladislau, que era um homem com um grande sentido de criatividade e de estímulo aos alunos. Foi um pouco por iniciativa dele que criámos o Centro de Estudos Geográficos do Liceu Nacional de Vila Real, onde tínhamos atividades muito criativas para o que era o ensino parado e estático da época. Foi o que mais marcou a diferença. Era um senhor de Braga que via muito mal, mas era um extraordinário professor de Geografia..Esse professor contribuiu de alguma forma para o interesse pelo mundo que o levaria à carreira diplomática?.Não tenho dúvida de que começou com ele muito do meu interesse pela geografia politica, pelos países, pela análise das realidades dos diferentes continentes. Devo-lhe alguma da minha curiosidade como viajante. Aliás, tínhamos uma revista chamada Meridiano na qual escrevíamos artigos sobre assuntos vários de geografia. O que era muito pouco comum num liceu de província daquela época..Ainda assim não seguiu uma via direta para a diplomacia. Chegou a ser publicitário, não é verdade?.Sim. Eu depois do liceu fui estudar Engenharia Eletrotécnica para a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde fui talvez um dos piores alunos da história daquele curso em Portugal. Fiz duas cadeiras em dois anos, o que significa que, se tivesse mantido esse ritmo, estaria agora a acabar o curso. Depois f ui estudar Ciências Sociais e Política Ultramarina, para o atual ISCSP. Tinha como diretor o professor Adriano Moreira, que também me marcou bastante do ponto de vista académico. Empreguei-me na parte final do curso, que foi um pouco atribulada do ponto de vista académico. Fui trabalhar para a Caixa Geral de Depósitos e também em publicidade..Mas o gosto pelas viagens acaba por levá-lo a concorrer à carreira diplomática....Fiz o concurso depois para o Ministério dos Negócios Estrangeiro, em 1975. Também tinha no júri pessoas marcantes como o professor Cavaco Silva. E a partir dai fiz uma carreira que acabei agora [deixou de ser embaixador em França e embaixador não residente no Mónaco a 31 de janeiro deste ano]..Leia mais pormenores no epaper do DN