As marcas SGVentil e SG Filtro podem conter um pesticida potencialmente cancerígeno, segundo um estudo realizado pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Em resposta, a Tabaqueira - responsável pela sua comercialização - recusa responsabilidades, porque não cultiva a planta. O director-geral da Saúde considera que, «a ser verdade, o caso é muito grave», e vai analisá-lo já nos próximos dias. Contactado pelo DN, o Ministério da Agricultura admite que esta substância não é controlada no País..A substância, denominada de dialdrina, foi encontrada nas folhas de tabaco e nas partículas aspiradas resultantes da queima de cigarros destas duas marcas. O responsável pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), Pereira Miguel, confessou ao DN só ter tido conhecimento do estudo ontem. «Ainda não o vi, nem sei se a resposta a esse estudo será estritamente da nossa competência», mesmo assim, o caso será analisado por uma equipa da DGS..Também o director dos assuntos institucionais da Tabaqueira, Nuno Jonet, adia a posição da empresa sobre estes resultados para mais tarde, «por desconhecer o estudo». Os esclarecimentos sobre a segurança do tabaco comercializado são remetidos para a página na Internet: «Apesar de a Philip Morris Internacional [grupo de que faz parte a Tabaqueira] não cultivar tabaco, estamos empenhados em garantir que o tabaco que compramos é cultivado em condições que protejam e garantam colheitas sustentadas»..O DN contactou o Ministério da Agricultura para apurar se o controlo da substância estava sob a sua tutela, mas a subdirectora-geral da Protecção de Culturas, Flávia Alfarroba, explicou que em Portugal não há despistagem deste pesticida. Isto porque «a dialdrina está proibida em toda a Europa desde o início da década de 80 por questões ambientais. Se fosse um produto autorizado, a fiscalização seria da nossa responsabilidade, assim não sei sequer de quem é». Flávia Alfarroba defende que a planta contaminada não pode ter sido cultivada no nosso país, tendo como provável proveniência uma região onde a sua utilização é permitida. .A dialdrina está proibida na Europa desde 2001 pela Convenção de Estocolmo e nos Estados Unidos desde 1983, diz a responsável pelo estudo. Maria Teresa Vasconcelos explica que a pesquisa da FCUP foi feita em quatro marcas, mas o PortuguêsSuave e SG Gigante não acusaram a substância. No entanto, a investigadora afirma que não exclui a hipótese de a dialdrina estar presente noutros produtos..«Foi um rastreio. Encontrámos nos cigarros que analisámos, o que não significa que exista ou não em todos», disse ao DN. A investigação teve início este ano e tem como objectivo criar estruturas que analisem e fiscalizem a composição do tabaco, já que «em Portugal não há laboratórios que o façam». .Nova legislação. Em meados do próximo ano vai ser proibido fumar em restaurantes, bares, discotecas, refeitórios e ainda nos locais de trabalho. Um novo decreto-lei que regula o consumo de tabaco vai ser levado a conselho de ministros ainda este mês e prevê um controlo apertado aos fumadores nos locais públicos. As medidas foram anunciadas ontem pelo ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, e são justificadas pela necessidade de protecção dos fumadores passivos..Os locais livres de fumo incluem ainda todas as unidades de saúde, os estabelecimentos de ensino e os lares de terceira idade. A excepção é apenas para os locais de trabalho e os lares onde existam áreas expressamente destinadas a fumadores. Contudo, estas precisam de ter ventilação própria e estarem sob pressão negativa e directamente ventiladas para o exterior através de um sistema de exaustão. A proibição estende-se aos transportes públicos urbanos e interurbanos. Nas medidas do Governo para combater o tabagismo inclui-se ainda a proibição da venda de cigarros a menores de 16 anos, apesar de esta não estar prevista no projecto. As coimas aplicadas aos infractores serão agravadas..* Com Rute Araújo