Produção de porcos afunda na China e inflação de preços chega a Portugal

Peste suína deve obrigar a abater um terço dos porcos do país que é o maior consumidor mundial nesta área
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Analistas preveem que a China produza menos 130 milhões de porcos, este ano, devido a surtos de peste suína em todo o continente chinês, que deverão ter efeitos inflacionários a nível mundial, incluindo em Portugal. O país que mais carne de porco consome no mundo deve assim perder um terço dos seus suínos, segundo um relatório do Rabobank, o maior banco mundial do setor de alimentos e agronegócio, com sede na Holanda.

O fenómeno deverá provocar escassez e interrupções nas cadeias de fornecimento doméstico, implicando uma reorganização dos mercados de proteínas globais e um aumento dos preços. Jais Valeur, chefe executivo do Danish Crown, o maior processador de carne suína da Europa, considera o declínio na produção chinesa "uma mudança no jogo". "Estamos apenas a começar a ver o real impacto da peste suína africana", disse, citado pelo jornal Financial Times.

As autoridades chinesas autorizaram, desde o final do ano passado, os matadouros portugueses Maporal, ICM Pork e Montalva a exportar para o país. Estimativas iniciais apontavam que as exportações portuguesas para China se fixassem em 15.000 porcos por semana, movimentando, no total, 100 milhões de euros.

Visto pelos produtores portugueses como o "mais importante" acontecimento para a suinicultura nacional "nos últimos 40 anos", a abertura do mercado chinês poderá agora ter efeitos inflacionários em Portugal.

Na semana passada, o ministério chinês da Agricultura previu uma subida homóloga de 70% no preço da carne suína no país, ao longo do segundo semestre de 2019.

No mercado de futuros de Chicago ou nas bolsas de Nova Iorque ou São Paulo, as ações de produtoras de carne dispararam.

O Rabobank estima que os abates e mortes devido à doença devem resultar numa quebra de produção de 130 milhões de porcos, até ao final deste ano. "É um grande acontecimento", lê-se. "A China tem metade dos porcos do mundo e perderá 30% dessa produção", descreve.

A peste suína africana não é transmissível aos seres humanos, mas é fatal para porcos e javalis. A atual onda de surtos começou na Geórgia, em 2007, e espalhou-se pela Europa do leste e Rússia, antes de chegar à China, em agosto passado.

Nos últimos meses, Pequim insistiu que estava tudo sob controlo, mas os surtos acabaram por se alastrar por todo o país. Apenas a ilha de Hainan, no extremo sul do país, e as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong, não registaram ainda casos. Milhões de porcos foram já abatidos.

A carne de porco é parte essencial da cozinha chinesa, compondo 60% do total do consumo de proteína animal no país. Dados oficiais revelam que os consumidores chineses comem 55 milhões de quilos de carne de porco por ano, de longe o maior mercado do mundo.

O país produz anualmente 430 milhões de porcos.

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