Processo de "limpeza" no cérebro também promove a comunicação
Quando as células, ou as suas proteínas, não funcionam bem, o organismo tem de destruí-las para evitar males maiores. O duo ubiquitina-proteossoma (elas próprias proteínas) tem a seu cargo esse papel de controlo de qualidade. No cérebro, esse é um mecanismo fundamental para o desenvolvimento e bom funcionamento do sistema nervoso. Mas esta é apenas uma parte da história, como acaba de descobrir, com surpresa, um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra. O tal duo proteico, afinal, também é essencial para os neurónios comunicarem entre si. A descoberta foi publicada ontem no Journal Of Cell Biology.
"Esta função de controlo de qualidade da ubiquitina-proteossoma era conhecida, mas sabíamos de outros estudos que a composição das proteínas nos terminais das células nervosas, ou seja nas sinapses, é importante para formação de novas sinapses", explica Ramiro Almeida, investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra e o coordenador do estudo.
Para tirar a limpo a aparente contradição, a equipa decidiu então utilizar "uma abordagem pouco convencional para investigar o processo através do qual a maquinaria de destruição das células também contribui para o desenvolvimento do sistema nervoso", adianta Ramiro Almeida.
Nos últimos quatro anos, a equipa testou in vitro, em laboratório, neurónios de ratinho e os resultados acabaram por ser uma surpresa: para além da sua tarefa destrutiva, ou de controlo de qualidade, a ubiquitina mostrou ter esse outro papel construtivo, que está na base do aumento das sinapses observado pela equipa de Coimbra.
"Ao alterarmos a composição proteica nas sinapses, o número de novas sinapses aumentou", sublinha o coordenador do estudo.
As sinapses, ou as terminações nervosas das células neuronais, são estruturas responsáveis pela passagem de informação no sistema nervoso.
O que se segue é destrinçar que proteínas promovem a formação de novas sinapses. "Esse é o trabalho que estamos agora a fazer, para encontrar possíveis alvos terapêuticos para doenças que afetam o funcionamento do sistema nervoso", conclui Ramiro Almeida.