Problemas continuam apesar da mudança de António Costa

Um ano depois de o presidente da Câmara de Lisboa ter fixado o gabinete no Intendente não se veem prostitutas nem toxicodependentes no largo. Mas para comerciantes e associações da zona, a mudança de António Costa não chega.
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Pouco depois das 14:30, no restaurante de Armindo, a Cova Funda, contam-se pelos dedos de uma mão os clientes que ainda almoçam mas há um ano, o espaço era posto de almoço obrigatório dos funcionários da câmara que com António Costa se mudaram para o Intendente. Hoje, culpa da crise, a maior parte "já só traz a comida de casa", diz o dono.

No dia 07 de 2011, o gabinete do presidente mudou de morada, fixando-se no largo, numa estratégia de promoção de uma das zonas mais degradadas da cidade, onde os prédios em ruínas e a prostituição são cartões de visita, e dando um sinal da aposta do Executivo socialista na reabilitação urbana.

As obras de recuperação do largo, que começaram em outubro e acabam em abril e que preveem requalificar o espaço para albergar esplanadas e comércio, também não ajudam o negócio. "Enquanto as obras não acabarem não vejo nada a mudar. Talvez quando acabarem, mas até agora não vejo nada de especial", descreve Armindo à Agência Lusa.

Opinião diferente tem o casal Dosani. Donos de uma mercearia indiana e de um hostel no largo do Intendente, notam que o ambiente está melhor, mas temem que o "problema" volte quando as "obras acabarem". Agora, "com as obras [as prostitutas e os toxicodependentes] não se atrevem a chegar aqui, mas na rua atrás continuam", explica a senhora Dosani.

Além dos negócios que têm no Intendente, o casal vive na Avenida Almirante Reis. Garantem que, à noite, são visíveis (e audíveis) as noites de prostituição que nascem nos cinco ou seis bares da Rua dos Anjos. "António Costa está a fazer tudo bonito, mas enquanto não se acabarem com alguns bares a má fama vai continuar", afirma.

Inês Andrade, presidente da associação Renovar a Mouraria, diz já foram intervencionadas muitas ruas do bairro, no âmbito da recuperação urbana prevista no QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional). No entanto, sublinha: "A obra concretizada só por si não resolve os problemas" da Mouraria.

"O que se via numas ruas passou para outras, porque não foram dadas alternativas", explica, admitindo que "não se nota grande diferença" nos níveis de prostituição e de abuso de drogas. Mas também, afirma Inês Andrade, "o objetivo nunca foi despejá-los [prostitutas e toxicodependentes] noutro bairro. Não era tirá-los daqui, mas integrá-los".

Nesse sentido, a representante da associação recorda que o Plano de Desenvolvimento Comunitário da Mouraria (PDCM) - um plano de ação para intervir socialmente no bairro pedido por António Costa para acompanhar as obras de requalificação urbana - ainda não avançou e que, por isso, "a mudança humana e social ainda não é visível".

Em frente ao gabinete do presidente, Abdul Joosab, filho de Abrahim - que há cerca de 30 anos tem uma loja de ferragens no Intendente - considera que o "largo mudou para melhor" e que "já não há drogados e a prostituição é reduzida". Mas admite que "só depois das obras é que vai dar para ver" como ficou o ambiente.

"Há uma mudança porque está tudo em obras, mas as casas de alterne continuam lá e na Rua do Benformoso continua a haver tráfico e consumo de drogas", avança Luís Mendão, responsável pelo Gabinete de Apoio Toxicodependência VIH/SIDA (GAT).

Para o responsável do GAT a resposta aos problemas sociais está no PDCM, que os parceiros esperam começar a implementar e não na mudança de António Costa para o Intendente. "É igual se o presidente está lá ou não, mas traz visibilidade ao sítio e é um sinal político importante. Ajuda a demonstrar que, com a sua presença, a situação tem de melhorar, e que não é só pela cosmética", rematou.

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