Privatização, vírgula

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Sou defensor, já se sabe, da privatização parcial da RTP. Sou-o há muito e por uma questão de princípio. Não faz sentido, numa economia liberal, que um player da dimensão do Estado vicie as regras do jogo, 'comendo' uma parte significativa das receitas publicitárias em troca de um serviço público no mínimo discutível.

O que defendo, pois, é a venda da RTP1, a redução dos canais sobrantes ao essencial e a saída do Estado do mercado da publicidade - e não deixo de registar que, ao contrário dos antecessores, o Governo de Passos Coelho continue preocupado em lidar com o tema para além do calendário eleitoral.

Mas a privatização da RTP1, apesar do que no futuro venha a poupar aos cofres do Estado, tem de ser decidida no interesse da indústria e do seu livre, sustentável e saudável funcionamento.

A vinte anos de concorrência desleal não podem suceder-se outros tantos de sobrecarga do sector, sobretudo se essa sobrecarga trouxer graves consequências para os restantes canais privados e, a médio prazo, para a própria RTP1 privada, pertença ela a quem pertencer. Vivemos tempos duríssimos. E, num contexto assim, o Governo tem se ser sensível aos apelos que lhe chegam da indústria. Não pode simplesmente resolver o problema do Estado passando-o para cima da indústria. Não pode resolver o seu próprio problema "apesar" da indústria.

Se este não é o tempo de privatizar a RTP1, Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas têm de ter a humildade de colocar essa privatização em banho-maria, à espera do momento certo. O contrário será a suprema negação da lógica liberal apregoada - e, na prática, um estatismo pior do que o que tivemos até aqui. Isso, sim, os eleitores não lhes perdoariam.

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