Príncipe Filipe

Recordista consorte
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Abandonou a marinha para ficar ao lado de Isabel II  e teve de lutar para se impor em Windsor. O duque  de Edimburgo bateu agora o recorde da rainha Carlota, casada com Jorge III durante 57 anos e 70 dias

Quando se casou com a futura rainha de Inglaterra, Filipe de Mountbatten não era o pretendente ideal. Apesar de a sua linhagem fazer dele pretendente ao trono de 16 países, a infância instável, depois de os pais terem sido expulsos da Grécia quando ele tinha apenas 18 meses, levantou a desconfiança dos conselheiros reais. Além de o considerarem demasiado rude e de duvidarem da sua fidelidade à princesa Isabel. Mas hoje, após seis décadas de casamento, Filipe provou que estavam errados. E no passado dia 18 tornou- -se no mais antigo consorte real, batendo o recorde da rainha Carlota, casada com o rei Jorge III durante 57 anos e 70 dias.

Uma vida ao lado de Isabel II, nem sempre fácil. Não só Filipe aceitou o papel de príncipe consorte, para o qual não há definição constitucional, como teve de se impor junto da velha guarda de Buckingham. Desde o momento em que anunciou a Isabel a morte do pai, numa visita ao Quénia em 1952, à morte da princesa Diana, sua nora, num acidente de viação em Paris , passando pelo incêndio que destruiu o Castelo de Windsor, Filipe foi presença constante ao lado da Rainha.

Obrigado a abandonar a carreira na marinha para apoiar a mulher, Filipe viu-se ainda forçado, por decreto parlamentar, a desistir de dar nome à família real, que se continuou a chamar Windsor. Irritado, terá exclamado: "Sou o raio de uma amiba! O único homem neste país que não pode dar o nome aos filhos." Mas aceitou. E acabou por encontrar ocupações, do desporto à solidariedade social, para se manter ocupado. E se as suas gaffes são famosas, Isabel II parece ter ultrapassado o embaraço que poderiam causar à Coroa britânica. Afinal "o Filipe é assim", costuma dizer a Rainha, como explicou ao Times Sarah Bradford, autora de Elizabeth, A Biography of Britain's Queen.

Nascido Filipe Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glucksberg, príncipe da Grécia e Dinamarca, na ilha de Corfu em 1921, o neto da rainha Olga da Grécia cedo foi apanhado pela guerra. A invasão turca obrigou os pais ao exílio quando ele tinha um ano e meio. Educado entre França, Alemanha e Escócia, teve de aprender muito cedo a enfrentar a vida sozinho. Uma experiência que lhe deu uma confiança que muitos confundem com arrogância. Terminado o liceu, Filipe ingressou na academia naval britânica. Alto e louro, era exímio no desporto, sobretudo pólo e críquete.

Foi com as primeiras nuvens da guerra já sobre a Europa que o cadete foi apresentado à princesa Isabel, filha mais velha do rei Jorge VI. "Lilibet" podia ter apenas 13 anos, mas não terá resistido ao charme de Filipe, cinco anos mais velho. A guerra encarregar-se-ia , no entanto, de os separar durante alguns anos, apesar de uma troca de correspondência frequente. A carreira do príncipe na marinha foi fulgurante. Promovido a primeiro-tenente, esteve presente na baía de Tóquio quando os japoneses assinaram a rendição.

Depois destes anos no mar, foi um Filipe diferente que voltou. Só o afecto por Isabel parecia ter crescido, sobretudo após um Natal de 1943 que passou com a família real. Ocasião para os jovens trocarem gargalhadas e dançarem a noite toda.

Herói de guerra, príncipe da Grécia e Dinamarca, Filipe deveria ser um bom partido. Mas dois entraves continuavam no caminho de um pedido de casamento. Um era a nacionalidade do pretendente. Nada que não se resolvesse com a naturalização de Filipe como britânico. Filipe Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glucksberg renunciava aos títulos de nobreza e ao nome de família, para se passar a chamar Filipe de Mountbatten, adoptando o apelido da mãe. O segundo assunto era mais delicado: não só os reis achavam a filha nova para se casar, como os conselheiros não confiavam na seriedade do pretendente.

O casal acabou assim por conseguir a aprovação dos monarcas e o casamento realizou-se a 20 de Novembro de 1947 em Westminster. Entre os 2000 convidados de uma cerimónia transmitida na BBC não estavam as três irmãs de Filipe, casadas com alemães, alguns deles com ligações aos nazis.

Frustrado por ter tido de deixar a marinha quando a morte de Jorge VI fez de Isabel a Rainha de Inglaterra, Filipe tem sido o pilar da monarca. E se o protocolo o impede de participar nas decisões de Estado, nos assuntos familiares quem manda é ele: da educação dos filhos à velocidade a que conduz. Um dia ameaçou deixar a mulher à beira da estrada por fazer reparos sobre a sua condução.

Adorado como um deus pelos habitantes de Vanuatu, no Pacífico, o príncipe consorte é conhecido por dizer sempre o que pensa. Até quando um jornalista mais atrevido lhe perguntou se os rumores sobre os seus casos extraconjugais eram verdadeiros. "Já pensou que nos últimos 40 anos nunca fui a lado nenhum sem um polícia? Como é que teria escondido uma coisa dessas?", perguntou.

Nos últimos anos, a imagem de homem rude do duque de Edimburgo foi suavizada pela divulgação das cartas que enviou à princesa Diana após a sua separação do príncipe Carlos. As acusações da família de Dodi al--Fayed, morto com ela em Paris, de que Filipe teria ordenado o seu assassínio levaram os investigadores a revelar as cartas que este enviou à nora a tentar salvar o casamento.

Afinal se alguém sabe como manter uma relação é Filipe. Depois de mais de seis décadas de vida com Isabel II, admitiu à BBC: "Fiz o meu melhor. Uns acham que chegou, outros não. É pena, vão ter de engolir." A própria Rainha prestou tributo ao marido nas suas bodas de ouro: "Ele tem sido tão simplesmente a minha força durante todos estes anos."

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