Primeiro título europeu para Alex Ferguson... no Aberdeen
Considerado um dos mais bem-sucedidos treinadores de futebol de todos os tempos e a recuperar atualmente de uma cirurgia a uma hemorragia cerebral, Alex Ferguson notabilizou-se ao leme do Manchester United, entre 1986 e 2013, com a conquista de 13 campeonatos, cinco Taças, quatro Taças da Liga e dez Supertaças de Inglaterra, duas Ligas dos Campeões, uma Taça das Taças, uma Supertaça Europeia, uma Taça Intercontinental e um Mundial de Clubes.
Contudo, o sucesso do treinador escocês começou a ser escrito anos antes, ao serviço de um clube do seu país que vivia na sombra do Celtic e do Rangers: o Aberdeen. Além de ter conduzido os The Dons à conquista de três (1979/80, 1983/84 e 1984/85) dos quatro títulos nacionais e de quatro (1981/82, 1982/83, 1983/84 e 195/86) das sete taças que o emblema do este da Escócia tem no palmarés, alcançou a glória europeia em 1983, com a vitória na Taça dos Vencedores das Taças.
A 11 de maio desse ano, os reds bateram o Real Madrid, por 2-1, no Estádio Nya Ullevi, em Gotemburgo, perante 17 804 espectadores, dos quais 12 mil eram afetos ao Aberdeen, tendo alguns viajado para a Suécia através de barcos de pesca, enquanto outros dormiram nas ruas ao lado do estádio.
Num dia de chuva torrencial, o relvado foi coberto por uma lona para ficar protegido, tendo recebido o aval do árbitro italiano Gianfranco Menegali, que determinou existirem condições para se jogar. O Aberdeen começou ao ataque e Erick Black, que vinha de um mês de paragem devido a lesão, adiantou os escoceses aos sete minutos, na sequência de um canto - durante os festejos, um adepto entrou em colapso e acabou por falecer.
O capitão merengue Juanito empatou aos 14", de grande penalidade, a castigar falta do guarda-redes Jim Leighton sobre Santillana. O empate permaneceu até ao apito final do tempo regulamentar, levando a decisão a prolongamento. Já com os penáltis no horizonte, o suplente utilizado John Hewitt (que substituiu Black) apontou o golo da vitória aos 112", de cabeça, na sequência de um cruzamento de Mark McGhee a partir da esquerda.
Estava consumada a conquista do primeiro título europeu de Alex Ferguson e do Aberdeen, naquela que foi a primeira final europeia para o clube, o terceiro da Escócia a atingir a presença no jogo decisivo de uma prova internacional, depois dos gigantes de Glasgow. "Abatemos o Real Madrid. O único problema teria sido se a decisão fosse para as grandes penalidades. Essa era a minha única preocupação, porque iria beneficiá-los", afirmou Ferguson, então com 41 anos. "Depois do golo do Real Madrid, perdemos um pouco o norte. O apito para o intervalo foi a melhor coisa que nos poderia ter acontecido. Depois disso, foi tudo muito diferente. Penso que os nossos avançados fizeram um ótimo trabalho a explorar a profundidade na segunda parte", acrescentou.
Do lado do Real Madrid, jogava José Antonio Camacho - que 20 anos depois viria a ser treinador do Benfica - e no banco estava Alfredo Di Stéfano. No final, a lendária figura dos madridistas elogiou o desempenho dos escoceses: "Têm o que o dinheiro não pode comprar: alma, um espírito de equipa construído numa tradição familiar."
Na caminhada para a final, o Aberdeen eliminou os suíços do Sion na pré-eliminatória (agregado de 11-1), os albaneses do Dínamo Tirana na primeira ronda (1-0), os polacos do Lech Poznan na segunda (3-0), os alemães do Bayern Munique nos quartos-de-final (3-2) e os belgas dos Waterschei Thor nas meias (5-2). Depois da Taça das Taças, seguiu-se a Supertaça Europeia, na qual a equipa de Ferguson bateu o Hamburgo a duas mãos, com um agregado de 2-0, naquele que foi o último título europeu de uma equipa escocesa.