Primeiro protesto político numa compra de arte
Esta foi a primeira vez que alguém licitou obras para marcar uma posição política, mas as autoridades de Pequim, apesar de reclamarem a restituição dos bronzes, já se demarcaram da atitude de Mingchao.
Ontem, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, recusou-se a comentar "esse comportamento não oficial", acrescentando que a Administração Estatal do Património Cultural da China desconhecia a manobra até Cai Mingchao a ter anunciado em conferência de imprensa, na passada segunda-feira. A Christie's fez entretanto saber que vai reter as peças em França, sendo ainda possível que regressem às mãos de Pierre Bergé.
Segundo a agência Xinhua, citada pela Bloomberg, Mingchao - que licitou as duas peças por 15,7 milhões de euros cada - terá de responder sozinho pelos seus actos. Isto apesar de ser consultor da Fundação para a Recuperação de Relíquias Culturais Perdidas, tutelada pelo governo.
Em declarações ao The Wall Street Journal, vários especialistas do sector condenaram já a táctica do coleccionador, que assim boicotou a venda da cabeça de coelho e da cabeça de rato, datadas do século XVIII e atribuídas ao jesuíta italiano Giuseppe Castiglione, que integraram a fonte do Zodíaco do antigo Palácio de Verão, pilhado por tropas franco-britânicas em 1860, na Guerra do Ópio.
A Christie's tem por regra verifica previamente a capacidade financeira dos licitadores, mas Cai Mingchao não terá levantado suspeitas porque é dono de uma pequena leiloeira e há dois anos comprou, num leilão da Sotheby's, uma escultura de Buda da dinastia Ming por 15 milhões de dólares.