Primeira trilogia de Gabriela Llansol vai ser publicada nos Estados Unidos em outubro
A edição norte-americana da "Geografia de Rebeldes" acontece no ano em que se comemoram precisamente 40 anos da publicação do primeiro livro desta trilogia, "O Livro das Comunidades", editado em 1977.
Os outros dois livros que compõem a primeira trilogia de Gabriela Llansol são "A Restante Vida", publicado em 1983, e "Na Casa de Julho e Agosto", em 1984.
A obra vai ser editada nos Estados Unidos pela editora Deep Vellum, de Dallas, traduzida do português para inglês por Audrey Young.
Os textos 'prefaciais' são da autoria do escritor português Gonçalo M. Tavares e do biógrafo de Clarice Lispector Benjamim Moser.
Maria Gabriela Llansol tem sido várias vezes comparada com a escritora brasileira Clarice Lispector, por especialistas literários que traçam paralelismos entre os estilos das duas autoras.
Nascida em 24 de novembro de 1931, em Lisboa, Maria Gabriela Llansol formou-se em Direito, que nunca exerceu, e em Ciências Pedagógicas, tendo trabalhado em áreas relacionadas com problemas educacionais.
Entre 1965 e 1984, viveu na Bélgica, onde deu início, com "O Livro das Comunidades", a uma obra, com mais de 26 livros, de género inclassificável.
Quando regressou a Portugal foi viver para Sintra, onde permaneceu até morrer, em março de 2008, com um cancro, aos 76 anos.
À data da sua morte, Gabriela Llansol tinha perto de 30 livros publicados, mas foram encontrados 73 cadernos manuscritos, a primeira parte de um extenso conjunto de inéditos, segundo explicou na altura João Barrento, amigo, ensaísta e presidente do Espaço Llansol, entidade dedicada à preservação e divulgação do espólio da escritora.
Entre 2009 e 2015, o Espaço Llansol publicou já cinco "Livros de Horas": "Uma data em cada mão", "Um arco singular", "Numerosas Linhas", "A palavra imediata" e "O azul imperfeito".
Caraterizada por um estilo muito próprio, Gabriela Llansol afirmou-se desde 1957, com as narrativas de "Os Pregos na Erva", consolidando-se com "O Livro das Comunidades" e com todas as obras posteriores, entre as quais "A Restante Vida", "Um Beijo Dado mais tarde" e "Lisboaleipzig".
Segundo notas biográficas da autora, os seus textos estruturam-se de forma não linear e não sequencial, traduzindo a descontinuidade temporal e espacial, e a sua escrita alia a subjetividade e originalidade a um pendor mítico, inspirado por uma visão religiosa do mundo, criando universos compostos por figuras da história, da poesia, da filosofia, da pintura, da Bíblia ou dos sonhos.
Maria Gabriela Llansol, que descascava ervilhas enquanto ouvia Johann Sebastian Bach, gostava de convocar para os seus textos Camões, Espinosa, Nietzsche ou Fernando Pessoa (designado por Aossê), além do Mestre de Leipzig, entre outros.
Estas "personagens" têm características especiais, são despojadas do seu conteúdo histórico, e aparecem nos seus textos com a mesma naturalidade com que aparecem espécies de animais, árvores, utensílios ou peças decorativas, num universo onde não existem hierarquias, nem "em cima" e "em baixo", nem juízos de valor ou prerrogativas sociais.