Três dezenas de rockets foram lançados ontem desde a Faixa de Gaza contra Israel, causando pelo menos três feridos, depois de os serviços prisionais israelitas anunciarem a morte de um dirigente da Jihad Islâmica que tinha sido detido em fevereiro e estava em greve de fome há 86 dias. Os vários grupos armados palestinianos avisaram que esta é apenas a "resposta inicial" à morte de Khader Adnan, temendo-se um novo reacender da violência, com a promessa de uma resposta israelita durante a noite..Esta não era a primeira greve de fome que Adnan empreendia contra as chamadas "detenções administrativas", que permitem que os suspeitos fiquem presos indefinidamente (por períodos renováveis de seis meses) sem serem acusados ou julgados em Israel. Segundo a associação não-governamental palestiniana Addameer, dos 4900 presos palestinianos que estão atualmente nas prisões israelitas, 1016 encontram-se nesta situação..Khader Adnan, que foi detido em 12 ocasiões e passou quase oito anos na prisão (a maior parte do tempo em detenção administrativa), tornou-se num símbolo de resistência ao empreender inúmeras greves de fome. Em 2012, passou 66 dias sem comer, em 2015, outros 56 dias (na altura foi libertado). Detido novamente a 5 de fevereiro na sua cidade natal de Arraba, perto de Jenin (na Cisjordânia), voltou a fazer greve de fome. O protesto ia já no 86.º dia, quando Adnan foi encontrado "inconsciente na sua cela". Transferido para o hospital, foi declarado morto após serem feitas tentativas para o reanimar..Será o primeiro prisioneiro palestiniano a morrer como resultado direto de uma greve de fome nas prisões israelitas, segundo o Clube dos Prisioneiros Palestinianos. O diretor Qaddura Faris disse, citado pela AFP, que outros presos que realizaram estes protestos terão morrido nas tentativas de os alimentar à força. O Clube tinha avisado na semana passada que o estado de saúde de Adnan era "muito grave", tendo ele recusado apoio nutricional ou exames médicos..Um tribunal militar teria recentemente rejeitado a libertação por motivos de saúde, tendo a mulher de Adnan dito que Israel se tinha recusado transferi-lo para um hospital civil ou permitir a visita do advogado. O primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, denunciou "um assassinato deliberado" de Israel por "recusar seu pedido de libertação, ignorá-lo clinicamente e mantê-lo na cela apesar da gravidade da sua saúde"..A resposta imediata dos militantes palestinianos foi o disparo de rockets contra Israel - inicialmente apenas quatro, mas mais 22 da parte da tarde e outra dezena ao princípio da noite. As Forças de Defesa Israelitas indicaram inicialmente que quatro dos rockets tinham sido intercetados pelo Iron Dome (sistema de defesa) e que os restantes tinham caído em zonas despovoadas, mas a polícia revelou pelo menos cinco locais de impacto nas áreas urbanas. As autoridades estavam ontem a tentar perceber se o sistema tinha falhado..Em Sderot, no sul de Israel, pelo três pessoas ficaram feridas, uma delas com gravidade, ao ser atingidas por estilhaços num local de construção. Os três serão estrangeiros, mas a sua nacionalidade não foi divulgada. Os ataques de rockets foram reivindicados pela Jihad Islâmica - que prometeu que Israel "pagará o preço por este crime" - e pelo Hamas..Israel respondeu ao princípio da tarde com disparos a partir de tanques, mas havia a promessa de retaliação durante a noite. O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, avisou que "qualquer pessoa que tente fazer mal aos cidadãos de Israel irá arrepender-se". O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reuniu com os responsáveis pela Defesa do país, deixando contudo de fora o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir (de um dos partidos de extrema-direita que fazem parte da coligação)..Ben-Gvir, que tem a responsabilidade sobre as polícias, ordenou entretanto aumentar o nível de alerta nas prisões - deixando os prisioneiros nas celas para "prevenir motins". Além disso, terá dado ordens para punir os presos que recusem comer. "A diretiva aos serviços prisionais é de zero tolerância para com as greves de fome e distúrbios nas prisões de segurança", disse o ministro..Este caso ameaça reacender a tensão entre israelitas e palestinianos, numa altura em que se aproxima a data do 75.º aniversário da criação do Estado de Israel (a 14 de maio). No dia seguinte à declaração de independência, cinco países árabes invadiram o país, desencadeando um conflito de oito meses. Mais de 760 mil palestinianos acabaram por ser expulsos ou tiveram que fugir das suas terras, com árabes e palestinianos a assinalar a Nakba, ou catástrofe, no dia 15 de maio..No mês passado, por altura do Ramadão, novos confrontos na mesquita de Al-Aqsa (um dos locais mais sagrados do Islão) tinham desencadeado uma outra chuva de rockets, dessa vez vindos do Líbano - pela primeira vez desde a guerra. O conflito já causou, desde o início do ano, a morte de pelo menos 97 israelitas, além de 19 israelitas, um ucraniano e um italiano, segundo os cálculos da AFP..susana.f.salvador@dn.pt