Presidente eleito vai lutar por uma "nova Coreia do Sul"
"Esta vitória esmagadora era esperada e desejada" pela maioria dos sul-coreanos, declarou ontem um jubilante Moon Jae-in, falando em Seul, ao serem anunciados os resultados provisórios da eleição presidencial em que este antigo ativista dos direitos humanos e defensor do diálogo com a Coreia do Norte foi o mais votado por clara maioria: 41,4%.
Para Moon, de 64 anos, "este dia abre as portas para uma nova Coreia do Sul", comprometendo-se o presidente eleito a "concretizar as expectativas" dos seus concidadãos a "realizar as reformas necessárias e a unidade nacional, os dois objetivos que todos ambicionam".
Os seus principais adversários, o conservador Hong Joon-pyo, com 23,3%, e o centrista Ahn Cheol-soo, com 21,8%, admitiram a derrota pouco depois de serem conhecidos os primeiros resultados. Um outro conservador, Yoo Seong-min, teve 7,1% e a candidata mais à esquerda, Sim Sang-jung, ficou-se pelos 5,9%. Os resultados definitivos serão divulgados durante o dia de hoje. O novo presidente tomará posse de imediato, não decorrendo o habitual período de transição de dois meses, por esta ter sido uma eleição antecipada devido à destituição da presidente Park Geun-hye, acusada de abuso de poder, corrupção e partilha de informações secretas com uma confidente e amiga de longa data. Moon cumprirá um único mandato de cinco anos.
Desafios
A vitória de Moon põe fim a uma década de presidentes e executivos conservadores e decorre num momento em que os sul-coreanos se viram confrontados com as revelações de vários casos de corrupção, além do escândalo de tráfico de influências envolvendo a presidente destituída e sua confidente, Choi Soon-sil. Ainda no plano interno, a vitória de Moon, que se apresentou com um programa de combate à corrupção e às injustiças sociais, sucede num momento económico menos bom. A extrema dependência das exportações, que representam mais de metade do PIB, a hegemonia dos grandes grupos económicos (chaebols), legislação laboral rígida e o envelhecimento da população colocam importantes desafios que Moon terá de enfrentar. E os setores que sustentam as exportações - eletrónica (quase 50%), automóveis, construção naval - têm vindo a perder competitividade. Como notava no The Diplomat, em dezembro de 2016, Justin Fendos, professor de Economia na Universidade sul-coreana de Dongseo: a perda de competitividade tem associada a quebra nas exportações e o consequente encerramento de empresas, com aumento do desemprego. O académico referia que a taxa de subemprego - indicador que revela o nível de utilização de mão-de-obra especializada em áreas não especializadas ou de remuneração inferior - está nos 14% e o desemprego jovem nos 9%. Moon, na campanha, disse querer reformar a legislação que rege a propriedade dos chaebols, muitos nas mãos de famílias, e avançar com medidas para incentivar a criação de empregos.
No plano regional, a escalada de provocações da Coreia do Norte, que tem intensificado a realização de ensaios nucleares e o disparo de mísseis de médio e longo alcance, representa o principal desafio para o novo presidente, que terá ainda de lidar com a alteração de estratégia dos Estados Unidos perante o regime de Pyongyang e a intenção demonstrada pelo presidente Donald Trump de renegociar um acordo de comércio livre com Seul.
Como antecipado na sua primeira intervenção, Moon anunciou a intenção de prosseguir uma nova política face ao regime dirigido por Kim Jong-un, fazendo notar que a linha dura favorecida pela presidente destituída e pelo seu antecessor, Lee Myung-bak, não produzira os resultados esperados. Ou seja, Pyongyang não desistiu do seu programa nuclear nem do desenvolvimento de mísseis. Moon realçou ainda que a estratégia dos anteriores presidentes, segundo ele, reduziu a margem de manobra no plano internacional para resolver os desafios colocados pelo regime norte-coreano.
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