Presidente eleito promete pacificar sociedade são-tomense

Carlos Vila Nova, candidato apoiado pela oposição, venceu a segunda volta a Guilherme Posser da Costa e irá suceder a Evaristo Carvalho na presidência.
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A segunda volta das eleições presidenciais de São Tomé, realizada quase um mês depois da data prevista devido a denúncias de irregularidades apresentadas pela maioria dos 19 candidatos e recurso no Tribunal Constitucional pelo candidato Delfim Neves, terceiro classificado na primeira volta, realizou-se no domingo, com os resultados provisórios a darem a vitória a Carlos Vila Nova, de 65 anos. Engenheiro de telecomunicações, o ex-empresário do ramo do turismo e antigo ministro das Obras Públicas e das Infraestruturas nos governos de Patrice Trovoada.

"Com o anúncio dos resultados preliminares, eu venci estas eleições de uma forma clara e este resultado permite-me considerar como presidente eleito", afirmou, recebendo aplausos de dezenas de apoiantes que se concentraram na sede de campanha, na noite de domingo, em Santarém, arredores da capital são-tomense. Segundo a Comissão Eleitoral Nacional, Vila Nova obteve 57,54%, resultantes de 45481 votos, enquanto Guilherme Posser da Costa alcançou 42,46%, ou 33557 votos.


"Ao ser empossado presidente da República de São Tomé e Príncipe, terei pela frente a pacificação da sociedade são-tomense, que se encontra fraturada", declarou. "Nos últimos anos, lamentavelmente, temos vivido uma política de ódio, de perseguição, de separação e de exclusão. E eu sempre disse que é preciso combater esses males. Esses males são os meus inimigos", disse o candidato apoiado pela Ação Democrática Independente (ADI, oposição).

Na segunda volta, Posser da Costa contou com o suporte de todos os partidos da chamada "nova maioria" (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata, Partido Nova Convergência e coligação UDD/MDFM). "Eu não tenho adversários que possa considerar inimigos. Eles todos, para mim, são elementos saudáveis na construção do meu país. Teremos, sempre que necessário, razões de diálogo, um diálogo positivo para nós ultrapassarmos as questões sejam elas quais forem para o bem de São Tomé e Príncipe", acrescentou.

"Tudo farei para ter o meu povo cada vez mais unido e pacificado e uma sociedade inclusiva", assegurou. Vila Nova afirmou-se "honrado" por ter sido eleito e também "preparado". "Vamos então começar a arregaçar as mangas e começar a olhar para o futuro. O futuro faz-se com trabalho."

O candidato eleito manifestou-se preocupado com a abstenção da segunda volta, 34,68%, superior à da primeira, em 18 de julho, e que foi de 31,6%. "É preciso reconhecer que ela foi devida ao longo período de arrastamento deste processo. As pessoas sentiram-se cansadas", comentou.

O processo eleitoral prolongou-se por quase um mês devido a um impasse no Tribunal Constitucional sobre um pedido de recontagem de votos feito pelo terceiro classificado na primeira volta, Delfim Neves, a que se seguiu um diferendo político entre o parlamento e o presidente cessante sobre a competência para a marcação da segunda volta. "Este cansaço, premeditado ou não, prejudicou a democracia. E agora juntos, comigo e com os outros representantes das instituições oficiais, os órgãos de soberania, temos de facto que rever algumas coisas, corrigir o que foi menos bem feito", considerou Vila Nova.

Numa declaração à imprensa, o candidato derrotado, Guilherme Posser da Costa, felicitou o presidente eleito e defendeu que "a verdadeira vitória será eliminar a pobreza que atenta contra a dignidade humana e os valores básicos de uma sociedade".

Já o presidente cessante, Evaristo Carvalho, declarou-se "aliviado" com a participação ordeira e cívica da população e referindo esperar que os resultados provisórios sejam aceites e declarados oficialmente pelo Tribunal Constitucional. Após uma visita de "despedida" ao quartel-general das Forças Armadas de São Tomé e Príncipe, que assinalava 46 anos de institucionalização, Evaristo Carvalho considerou que "o povo, mais uma vez, prestou um bom serviço", participando no ato de votação de uma "forma ordeira e cívica".

O primeiro-ministro Jorge Bom Jesus, do MLSTP/PSD, não comentou os resultados e disse não querer "fazer futurismo tão cedo" quanto à coabitação entre o seu governo e o presidente eleito, embora considerando que "as instituições têm que funcionar". "Nós temos uma Constituição, há as balizas, há as regras do jogo, e penso que todos nós estamos aqui para contribuirmos", disse Bom Jesus, realçando que "há independência, mas há interdependência" entre as instituições.

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