Presidente egípcio acolhe os líderes da UE mas recusa "lições" em Direitos Humanos
A cimeira entre os líderes árabes e europeus realizada na segunda-feira no Egito ficou marcada pelas críticas de Abdul Fatah Al-Sisi, presidente do país, que não gostou de ser confrontado pelos líderes europeus com a falta de respeito do seu governo pelos Direitos Humanos.
No final do encontro entre líderes árabes e europeus, Al-Sisi denunciou os líderes europeus que questionaram as suas ações. "Vocês não nos vão ensinar nada sobre Humanidade," começou por dizer aos repórteres. Os europeus e os árabes têm "um sentido de Humanidade, valores e ética" diferentes, continuou o presidente egípcio. "Respeitem os nossos valores e ética, como nós respeitamos os vossos."
A cimeira, realizada com o objetivo de estreitar laços entre europeus e árabes em questões como a migração e o terrorismo, realizou-se entre domingo e segunda na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh.
No discurso de encerramento, Al-Sisi não poupou as nações europeias, acusando-as de não compreenderem as pressões que os países árabes têm de enfrentar enquanto estão ameaçados pelo conflito. O presidente do Egito defendeu ainda, com ênfase, o uso do seu governo da pena de morte.
O apoio europeu a governos que são tidos como autoritários é controverso. A União Europeia tinha relações diplomáticas normais com o regime de Hosni Mubarak, que governou o Egito durante quase 30 anos, antes de ser deposto em 2011. Já Al-Sisi recebeu em janeiro a visita de Emmanuel Macron, o presidente francês, e em 2017 Angela Merkel, chanceler alemã, juntou-se ao presidente egípcio para jantar.
O primeiro-ministro holandês Mark Rutte, explicou estes comportamentos em Zurique, ainda este mês: "Às vezes tens de dançar com seja quem for que esteja na pista de dança. Nem sempre temos escolha."
Segundo o jornal norte-americano New York Times, as conversações entre os estados árabes e europeus não resultaram em resultados concretos, mas ficou sublinhada a intenção dos líderes europeus de consolidarem a sua esfera de influência naquela zona do mundo.
Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, disse aos participantes na cimeira que os líderes europeus não estavam no Egito "para fingir que concordamos em tudo". "Mas enfrentamos desafios semelhantes e partilhamos interesses."
A cimeira teve algumas ausências. Os líderes europeus recusaram-se a receber o presidente do Sudão, Omar Hassan al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por acusações de genocídio.
A Arábia Saudita enviou como representante o rei Salman, já com 83 anos, naquela que foi a sua primeira viagem ao estrangeiro em 16 meses. O seu discurso ficou marcado por algumas atrapalhações, o que intensificou a especulação sobre o seu estado de saúde.