Tudo começou com um protesto devido ao aumento do preço dos combustíveis no Ano Novo, transformou-se num grito de revolta contra os poderes instituídos no Cazaquistão e nem a demissão do governo conseguiu acalmar a situação na antiga república soviética. O presidente Kassym-Jomart Tokayev, escolhido a dedo pelo histórico Nursultan Nazarbayev para lhe suceder em 2019 (estava no poder desde 1990), prometeu uma resposta "forte" após os manifestantes invadirem edifícios governamentais, reiterando que não planos para se demitir.."Enquanto presidente, estou obrigado a proteger a segurança e paz dos nossos cidadãos, preocupar-me com a integridade do Cazaquistão", disse Tokayev num discurso transmitido pela televisão, apontando o dedo a "multidões de bandidos" e a "provocadores" domésticos e estrangeiros. O presidente assumiu também o controlo do Conselho de Segurança, que até agora continuava nas mãos de Nazarbayev, de 81 anos: "Como chefe de Estado e a partir de hoje líder do Conselho de Segurança, pretendo atuar da forma mais forte possível.".Os protestos rebentaram devido ao aumento do preço do gás de petróleo liquefeito (GPL), que é usado em muitos carros no país - durante a maior parte do ano passado um litro custava 50 tenge (10 cêntimos) e passou para 120 tenge (24 cêntimos) no dia 1. As manifestações começaram no sábado na cidade de Zhanaozen, na região rica em petróleo de Mangistau (oeste), mas espalharam-se rapidamente..Em resposta, o presidente decretou o estado de emergência nesta região e na antiga capital (e maior cidade), Almaty, onde foi também decretado o recolher obrigatório, assim como na nova capital, Nursultan (batizada em homenagem ao ex-presidente). Tokayev demitiu também o governo (apesar de todos os ministros continuarem em funções até serem nomeados novos), tendo dado ordens para voltar a baixar o preço do GPL para os 75 ou 80 tenge (15 a 16 cêntimos), os preços praticados em dezembro..Mas as medidas não estão a travar os manifestantes, que ontem invadiram a câmara de Almaty, incendiando parte do edifício, assim como o da procuradoria. Uma multidão juntou-se no exterior da residência do presidente nesta cidade. A polícia, a guarda nacional e unidades militares foram destacadas para conter os protestos durante a noite de terça para quarta-feira, recorrendo a gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento para dispersar os manifestantes. Mais de 200 pessoas já tinham ontem sido detidas e o acesso à internet no país tinha sido cortado. O serviço de telemóvel também estava afetado..Estes são os maiores protestos contra o regime de Nazarbayev, que ainda não surgiu em público ou enviou qualquer mensagem sobre as manifestações. Desde a queda da URSS o país conseguiu, graças à aparente calma política (qualquer oposição é controlada) e às reservas de petróleo e minerais, atrair mais de 370 mil milhões de dólares em investimentos estrangeiros. A queda dos preços do ouro negro complicaram a situação, junto com a pandemia de covid-19. A Rússia, parceiro económico, disse estar a acompanhar a situação, defendendo uma "solução pacífica (...) por meio do diálogo" e que não haja "interferência do estrangeiro"..susana.f.salvador@dn.pt
Tudo começou com um protesto devido ao aumento do preço dos combustíveis no Ano Novo, transformou-se num grito de revolta contra os poderes instituídos no Cazaquistão e nem a demissão do governo conseguiu acalmar a situação na antiga república soviética. O presidente Kassym-Jomart Tokayev, escolhido a dedo pelo histórico Nursultan Nazarbayev para lhe suceder em 2019 (estava no poder desde 1990), prometeu uma resposta "forte" após os manifestantes invadirem edifícios governamentais, reiterando que não planos para se demitir.."Enquanto presidente, estou obrigado a proteger a segurança e paz dos nossos cidadãos, preocupar-me com a integridade do Cazaquistão", disse Tokayev num discurso transmitido pela televisão, apontando o dedo a "multidões de bandidos" e a "provocadores" domésticos e estrangeiros. O presidente assumiu também o controlo do Conselho de Segurança, que até agora continuava nas mãos de Nazarbayev, de 81 anos: "Como chefe de Estado e a partir de hoje líder do Conselho de Segurança, pretendo atuar da forma mais forte possível.".Os protestos rebentaram devido ao aumento do preço do gás de petróleo liquefeito (GPL), que é usado em muitos carros no país - durante a maior parte do ano passado um litro custava 50 tenge (10 cêntimos) e passou para 120 tenge (24 cêntimos) no dia 1. As manifestações começaram no sábado na cidade de Zhanaozen, na região rica em petróleo de Mangistau (oeste), mas espalharam-se rapidamente..Em resposta, o presidente decretou o estado de emergência nesta região e na antiga capital (e maior cidade), Almaty, onde foi também decretado o recolher obrigatório, assim como na nova capital, Nursultan (batizada em homenagem ao ex-presidente). Tokayev demitiu também o governo (apesar de todos os ministros continuarem em funções até serem nomeados novos), tendo dado ordens para voltar a baixar o preço do GPL para os 75 ou 80 tenge (15 a 16 cêntimos), os preços praticados em dezembro..Mas as medidas não estão a travar os manifestantes, que ontem invadiram a câmara de Almaty, incendiando parte do edifício, assim como o da procuradoria. Uma multidão juntou-se no exterior da residência do presidente nesta cidade. A polícia, a guarda nacional e unidades militares foram destacadas para conter os protestos durante a noite de terça para quarta-feira, recorrendo a gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento para dispersar os manifestantes. Mais de 200 pessoas já tinham ontem sido detidas e o acesso à internet no país tinha sido cortado. O serviço de telemóvel também estava afetado..Estes são os maiores protestos contra o regime de Nazarbayev, que ainda não surgiu em público ou enviou qualquer mensagem sobre as manifestações. Desde a queda da URSS o país conseguiu, graças à aparente calma política (qualquer oposição é controlada) e às reservas de petróleo e minerais, atrair mais de 370 mil milhões de dólares em investimentos estrangeiros. A queda dos preços do ouro negro complicaram a situação, junto com a pandemia de covid-19. A Rússia, parceiro económico, disse estar a acompanhar a situação, defendendo uma "solução pacífica (...) por meio do diálogo" e que não haja "interferência do estrangeiro"..susana.f.salvador@dn.pt