Presidente destituída arrisca prisão

Tribunal Constitucional do país confirmou o impeachment de Park Geun-hye. Novas eleições serão em maio e Liberal Moon Jae-in surge como favorito nas sondagens
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Estudante de Direito e ativista político, foi preso nos anos 70 por manobras de oposição ao regime. O país era então liderado por Park Chung-hee. Muitos anos mais tarde, em dezembro 2012, seria contra a filha do ditador que ele perderia a corrida presidencial na Coreia do Sul. Agora que ela caiu em desgraça, Moon Jae-in, de 63 anos, é o principal favorito para lhe suceder.

Ontem chegou o fim da linha para Park Geun-hye, a presidente da Coreia do Sul. O Tribunal Constitucional confirmou o impeachment que já tinha sido votado no Parlamento a 9 de dezembro. Com os poderes presidenciais suspensos desde essa altura, chegou agora o momento de Park abandonar definitivamente o cargo. A agora ex-chefe de Estado perde a imunidade de que gozava e passa a poder ser presa e formalmente acusada pela Justiça - cenário que é dado como bastante provável.

Park Geun-hye é suspeita de, em conluio com Choi Soon-sil, amiga e confidente de longa data, ter pressionado e seduzido várias empresas a fazer avultados donativos a fundações de caráter não lucrativo instituídas pela própria Choi - que se encontra detida. A gigante Samsung doou cerca de 34 milhões de euros - mais do que qualquer outra firma -, mas nega que em troca esperasse qualquer tipo de favorecimento estatal. Lee Jae-yong, chefe da empresa, rejeitou todas as acusações de corrupção e subornos na primeira sessão do seu julgamento, que arrancou na quinta-feira.

A confirmação do impeachment e o afastamento de Park da presidência vêm agravar o ambiente de instabilidade que se vive na península coreana, depois de nos últimos tempos o regime de Kim Jong-un, na Coreia do Norte, ter exercitado os músculos com testes de mísseis balísticos e dois ensaios nucleares em 2016 - totalizam cinco desde o primeiro em 2006.

As mudanças políticas em Seul podem também significar uma alteração nas relações entre os dois vizinhos. Park, até agora, tinha seguido uma linha bastante dura em relação a Pyongyang. Moon Jae-in - que lidera as intenções de voto com 32% e que será o candidato presidencial apoiado pelo Partido Minjoo, a principal força da oposição - há muito que defende uma abordagem mais dialogante com o Norte da península.

A decisão do Constitucional - tomada por unanimidade - de confirmar o afastamento de Park desencadeou uma onda de manifestações. Centenas de apoiantes da presidente ocuparam as ruas em frente ao tribunal para protestar contra o veredicto, ao mesmo tempo que centenas de outros cidadãos saíram à rua para celebrar a queda da chefe de Estado. Duas pessoas morreram durante os protestos.

Park Geun-hye, 65 anos, é a primeira líder sul-coreana eleita democraticamente que é forçada a abandonar o cargo. Em 2004 o Parlamento também votou favoravelmente um impeachment contra o então presidente Roh Moo-hyun, mas o Constitucional acabou por contrariar a decisão dos deputados.

A partir de agora a Coreia do Sul tem 60 dias para eleger um novo líder e a imprensa local aponta a data de 9 de maio como a mais provável para as eleições. Além de Moon Jae-in o candidato que recolhe mais intenções de voto - 17% na mais recente sondagem da Gallup Korea - é o liberal An Hee-Jung, de 51 anos. Licenciado em Filosofia e desde 2010 governador da província de Chungcheong do Sul, trabalhou como assessor do ex-presidente Roh Moo-hyun e é apelidado pelos seus apoiantes como o "Obama da Coreia do Sul".

Ban Ki-moon, ex-secretário-geral das Nações Unidas, chegou a ser falado como potencial candidato, mas no início de fevereiro anunciou que não entraria na corrida. Até à eleição do novo presidente, o primeiro-ministro Hwang Kyo-ahn, próximo de Park, continuará a assumir interinamente as funções. Hwang aparece nas sondagens apenas com 9% das intenções de voto. Apesar de ainda não ter revelado se tenciona avançar é o nome preferido entre os conservadores. Contra si joga a proximidade em relação a Park.

Além da Coreia do Norte, as relações com a China e com os Estados Unidos também prometem marcar a campanha presidencial. Para este mês, em resposta aos testes balísticos de Pyongyang, está prevista a instalação na Coreia do Sul do escudo antimíssil norte-americano conhecido por THAAD. A China não gostou e as relações entre os dois países azedaram. Moon Jae-in, que lidera as sondagens, entende que o THAAD deve ser "repensado". An Hee-Jung, o segundo classificado nos barómetros, apesar de também defender mais diálogo com a Coreia do Norte, entende que o sistema antimíssil deve avançar.

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