Presidente da Câmara de Setúbal assiste a jogo e incendeia polémica no Vitória
A presidente da Câmara Municipal de Setúbal (CMS)assistiu este domingo ao jogo entre o Olhanense e o Vitória de Setúbal para o Campeonato de Portugal (antiga 3.ª divisão). A equipa sadina ganhou por 3 a 2, mas isso não tranquilizou todos os apoiantes do clube e, muito menos, a atual direção, presidida por Paulo Rodrigues. Não é habitual os autarcas assistirem aos jogos, sobretudo quando a pandemia proíbe a presença de público.
O atual presidente do clube ganhou as eleições a outros dois candidatos a 18 de outubro e tomou posse no dia 5 de novembro.
Maria das Dores Meira informou o DN ter sido convidada pelos capitães e equipa técnica do Vitória Futebol Clube para assistir à partida, com o conhecimento do Sporting Clube Olhanense. O convite terá acontecido na sexta-feira, dia em que o Vitória festejou 110 anos de existência e a presidente homenageou o clube, sem convidar os atuais dirigentes.
Paulo Rodrigues não retira legitimidade à presença no estádio de Olhão, mas questiona as ações paralelas ultimamente desenvolvidas por Maria das Dores Meira. "Agora está a acompanhar o Vitória, estranho que só se tenha preocupado depois de eu me ter candidatado e ganho as eleições. Deveria ter acompanhado o clube em todos estes anos de dificuldades financeiras [preside à autarquia desde 2006]. Devia ter estado presente em junho para evitar que o Vitória fosse para a 3. ª divisão [Campeonato de Portugal].
Sublinha o presidente do Vitória FC: "É mais um episódio que nos deixa triste, como ficámos tristes por ter convidado a equipa, funcionários, sócios e pessoas que nada têm a ver com o clube para festejar os 110 anos do Vitória e não convidou o presidente do clube. Não sei quais são os seus objetivos e devia clarificar a situação. É triste o que está a fazer".
A presença da presidente da autarquia de Setúbal foi notada no estádio do SC Olhanense no jogo desta manhã de domingo e os dirigentes da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) terão sido questionados sobre esse facto, que não levantou dúvidas à entidade.
Explicou a assessoria da FPF que Maria das Dores Meira foi convidada pela SAD do Vitória FC, que pode levar pelo menos dois convidados a assistir aos jogos em época de pandemia. "O clube tem direito a ser representado".
Mas a SAD do Vitória FC não tem presidente, já que o mesmo deverá ser indicado pela direção do clube. "Temos 30 dias para indicar um presidente, o que será feito até 5 de dezembro", explica Paulo Rodrigues.
A questão é saber quem é que será nomeado para presidente da SAD. A Câmara Municipal de Setúbal detém 40 % das ações e é o sócio maioritário. E um grupo de 113 sócios pediu uma Assembleia-Geral Extraordinária para destituir a direção de Paulo Rodrigues, a qual deverá realizar-se a 2 de dezembro. Entretanto, saíram dois membros do atual executivo e que foram substituídos.
Os sócios alegam que Paulo Rodrigues não cumpriu as promessas feitas na campanha eleitoral, nomeadamente o pagamento dos salários em atraso dos funcionários. O presidente justifica que está há menos de um mês a dirigir o clube e que tudo está a fazer para regularizar a situação.
"Os salários de 65 % do plantel (os que são até mil euros) estão pagos. Pagámos 50 % dos ordenados a todos os funcionários que tinham atrasos de três, quatro e cinco meses e alguns têm tudo em dia por só terem dois meses de atraso. Pagámos, ainda, a oito pessoas da SAD. Pagámos o seguro de futebol em dívida que foi quase de oito mil euros, caso contrário a equipa não podia jogar. E temos pago todas as despesas relacionadas com a equipa de futebol exceto a ida a Olhão que foi suportada pala CMS, aliás, estranhamos não nos ter sido apresentada essa despesa".
A deslocação terá sido num autocarro da autarquia., o que, também, merece críticas de Paulo Rodrigues: "Ficámos surpreendidos por a equipa se ter deslocado no autocarro da Câmara, podendo ir no do Vitória FC, pois sempre pagámos tudo para as deslocações com o nosso autocarro".
Na terça-feira, os responsáveis da CMS vão mudar as fechaduras do Estádio do Bonfim, as instalações do Vitória FC, a partir das 14:00. A autarquia adquiriu os direitos de superfície durante 90 anos pelo valor de 1,5 milhões de euros.
"Esta tomada de posição também é simbólica, para as pessoas perceberem que hoje o estádio não é do Vitória, é da Câmara, e sendo do município é de toda a cidade e também do Vitória", salientou Maria das Dores Meira à agência Lusa. Acrescentou que haver um protocolo de gestão com o Vitória FC.
Paulo Rodrigues disse ao DN que estará terça-feira no Bonfim para "receber uma cópia das chaves". Antes, a sua direção emitiu um comunicado, sublinhando: "A atual direção e restantes órgãos sociais do clube venceram, por vontade democraticamente expressa dos sócios Vitorianos uma eleição justa, regular e de acordo com os pergaminhos históricos do Clube". Acusa Maria das Dores de parcialidade nas eleições do clube: "Já se percebeu que a vontade do Executivo era que outra lista tivesse ganho o ato eleitoral".
Paulo Rodrigues encabeçou a lista B às eleições para a direção do Vitória FC que ganhou com 587 votos, para o mandato 2020-2030. Em segundo lugar ficou Nuno Soares (lista C) com 538 votos e, em terceiro, Vítor Hugo Valente (Lista A), com 368.
A equipa de futebol sénior do Vitória FC competia na Primeira Liga e, esta época, desceu para o Campeonato de Portugal devido a problemas financeiros e não ter cumprido os requisitos exigidos nos campeonatos profissionais.