Presidenciais
Não sabemos se a candidatura de Henrique Neto à Presidência da República é para levar até ao fim, ou seja, até aos votos. Não sabemos, tão pouco, se o empresário socialista conseguirá reunir as assinaturas necessárias para se sujeitar a sufrágio. Mas a notícia de que o ex-deputado tem a intenção de avançar tem pelo menos dois méritos. Por um lado, desassossegou o PS, que, perante as evidentes dificuldades de encontrar um candidato na sua área política que seja mobilizador e vencedor, tem procurado colocar as presidenciais no terreno das eleições de segunda ordem. Por outro, e sendo conhecido o pensamento de Henrique Neto sobre o funcionamento da nossa democracia, talvez permita um debate, tão amplo quanto possível, sobre a necessária reforma do sistema político. É evidente que esta não é uma boa notícia para a esquerda em geral e para o Partido Socialista em particular. O que a história recente nos tem mostrado é que o centro e a direita, porque pragmáticos, unem-se em torno de um único nome, ao contrário dos seus adversários, que promovem a dispersão de votos e a fragmentação do eleitorado tantas vezes com candidaturas estéreis e redundantes. Foi assim que Cavaco Silva chegou a Belém há quase dez anos, eleito à primeira volta, perante as candidaturas fraturantes de Mário Soares e Manuel Alegre, a que se juntavam todas as outras com menor expressão, mas divisionistas o suficiente para robustecer a vitória do atual Presidente da República. Tal como Marinho e Pinto, Henrique Neto está fora das elites de Lisboa. Tem um discurso antissistema e, em certa medida, contra a classe política dominante, o que lhe pode assegurar alguma simpatia junto do povo descontente. A política, como sabemos, tem horror ao vazio. E esse é o drama que vive por estes dias o PS. Como ontem escrevia Augusto Santos Silva, em termos porém pouco simpáticos e elegantes para dizer o mínimo, "sempre que os responsáveis se resguardam" o espaço fica livre para ser preenchido. E o que é dramático é que o deserto parece ser cada vez maior.