"Nós, os cubanos, não nos rendemos", escreveu o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, no Twitter, em resposta ao "presente envenenado" que recebeu dos EUA em véspera de cumprir um ano no poder na ilha que durante mais de meio século foi liderada pelos irmãos Castro - primeiro Fidel e depois Raúl..O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, anunciou que no próximo 2 de maio será ativado, pela primeira vez na história, o capítulo III da Lei Helms-Burton, que em 1996 reforçou o embargo dos EUA a Cuba (instaurado em 1960). O capítulo III permitirá a reivindicação perante os tribunais norte-americanos de propriedades expropriadas durante a Revolução Cubana - segundo o Departamento de Estado, há seis mil casos potenciais. Será também ativado o capítulo IV, que restringirá a entrada nos EUA aos atuais beneficiários ou operadores dessas propriedades..A medida é contestada pelo Canadá e pela União Europeia, que deve levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), já que prejudica as empresas com representação na ilha e destina-se a dissuadir os investidores atuais e potenciais em Cuba e, assim, "afogar" a economia do país. Uma represália pelo apoio de Havana ao presidente Nicolás Maduro, da Venezuela.."O capítulo III não é pior do que o I e o II, que são parte das ações contra todo o povo de Cuba. Ninguém nos vai arrebatar, nem por sedução nem pela força, 'a pátria que os pais conquistaram para nós de pé'. Nós, os cubanos, não nos rendemos", escreveu o chefe de Estado cubano, numa mensagem repetida em espanhol e em inglês.."A atitude não vai mudar frente aos que erguem a espada contra nós. Nós, os cubanos, não nos rendemos, nem aceitamos leis sobre os nossos destinos que não estão na Constituição. Em Cuba mandam os cubanos. Cuba confia nas suas forças e na nossa dignidade", acrescentou noutra mensagem..Além das alterações na Lei Helms-Burton, o conselheiro de Segurança Nacional do presidente Donald Trump, John Bolton, anunciou ainda a limitação do envio de remessas para Cuba (mil dólares por pessoa, por trimestre), assim como de autorizações de viagens. Apenas serão autorizadas as por motivos familiares. Num recuo em relação à abertura aprovada pelo ex-presidente Barack Obama, as medidas passam ainda por bloquear as transações financeiras de entidades cubanas. Há ainda mais empresas cubanas nas listas com as quais os norte-americanos não podem fazer negócios..Os anúncios foram feitos a 17 de abril, aniversário da Baía dos Porcos, tentativa de invasão norte-americana da ilha a 17 de abril de 1961 que viria a falhar 72 horas depois. E a dois dias do primeiro aniversário de Díaz-Canel no poder..Um ano na continuidade.O engenheiro eletrónico, que faz 59 anos neste domingo, nascido em Santa Clara, assumiu os cargos de presidente dos conselhos de Estado e de Ministros a 19 de abril de 2018. É o primeiro líder da nova geração que já nasceu após a Revolução Cubana de 1959, mas que fez todo um percurso dentro do Partido Comunista Cubano, desde primeiro secretário em Villa Clara e depois em Holguín, até ministro da Educação Superior, vice-presidente do Conselho de Ministros e vice-presidente do país.."Não venho prometer nada, como nunca prometeu a Revolução em todos estes anos", disse, após tomar posse, no Palácio de Convenções. "Venho entregar o compromisso de trabalhar e exigir o cumprimento do programa que temos como governo e como povo nas Diretrizes Políticas do Partido e da Revolução, a curto, médio e longo prazo", acrescentou..Noutro momento do discurso, reiterou a ideia da continuidade das reformas empreendidas até então. "O mandato dado pelo povo a esta Legislatura é o de dar continuidade à Revolução Cubana num momento histórico crucial, que estará marcado por tudo o que conseguirmos avançar na atualização do modelo económico e social, aperfeiçoando e fortalecendo o nosso trabalho em todos os âmbitos da vida da nação"..Com Díaz-Canel no poder, Cuba empreendeu o processo para ratificar a nova Constituição, que culminou precisamente nesta semana. O texto foi aprovado em referendo em fevereiro. Entre as principais mudanças está o reconhecimento da propriedade privada, sem abandonar o comunismo, e a autorização para investimento estrangeiro na economia..Raúl Castro denuncia "chantagem" dos EUA.Raúl Castro, que assumiu o poder em Cuba em 2006 após a doença ter obrigado o irmão Fidel a afastar-se, deixou a presidência do país há um ano, mantendo-se contudo como primeiro secretário do Partido Comunista Cubano..Ainda antes do anúncio das novas medidas dos EUA contra a ilha, já Castro alertava para o "tom cada vez mais ameaçador" de Washington contra Havana e avisava no Parlamento cubano, na sessão em que foi ratificada a nova Constituição. "Nunca vamos abandonar o nosso dever de agir em solidariedade com a Venezuela", afirmou. "Rejeitamos totalmente todos os tipos de chantagem", acrescentou..As novas medidas dos EUA surgem numa altura em que Washington aumenta a pressão sobre Nicolás Maduro, na Venezuela, cujo segundo mandato não é reconhecido por meia centena de países, que consideram que as eleições de maio não foram livres e reconhecem o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, como presidente interino. Cuba mantém o apoio a Maduro..Castro avisou ainda para o deteriorar da economia. "Hoje o panorama da economia é outro, mas temos de estar preparados para a pior variante", afirmou o ex-presidente de 87 anos. E pediu aos cubanos que dupliquem os esforços para aumentar a produção, em especial de alimentos, que adotem hábitos de poupança, otimizem o uso de energia e evitem os roubos de combustível.."Para dizê-lo em bom cubano: a crueza do momento obriga-nos a estabelecer prioridades claras e bem definidas, para não regressar aos difíceis momentos do Período Especial", disse o presidente cubano, Díaz-Canel, dias depois. O Período Especial começou em 1989, após a dissolução da União Soviética, principal apoio de Cuba, tendo-se prolongado até aos meados da década de 1990.