Presença política das FARC será decisiva nas eleições de 2018

A atuação política do antigo grupo armado de esquerda é um dos pontos previstos pelo acordo de paz firmado com o Governo colombiano em setembro do ano passado
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A diretora de uma organização de observação eleitoral colombiana defendeu esta segunda-feira que a presença política da antiga guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) será decisiva nas eleições nacionais e locais de 2018.

"A presença das FARC será decisiva em como os eleitores vão votar. Vão analisar se um candidato apoia ou não o processo de paz, por exemplo. Inclusive, há políticos que defendem mudanças no acordo, como se ele ainda não tivesse sido assinado", disse à Lusa a diretora da Misión de Observación Electoral (MOE), Alejandra Barrios Cabrera.

Membros das FARC estão reunidos desde o último domingo num congresso em Bogotá, para preparar o lançamento de um novo partido, previsto para a próxima sexta-feira.

A atuação política do antigo grupo armado de esquerda é um dos pontos previstos pelo acordo de paz firmado com o Governo colombiano em setembro do ano passado, mas que entrou em vigor este ano.

"Esperávamos que o tema das FARC deixasse de pôr ou tirar presidentes, queríamos falar sobre o tema da corrupção, que está comendo este país e que estava escondido pela cortina de sangue que era a guerra. Mas continuamos a discutir as FARC...", afirmou a diretora da organização civil colombiana de observação eleitoral.

Um dos motivos para a persistência do tema na esfera pública e nos discursos dos políticos é a vitória do "não" no plebiscito de 02 de outubro do ano passado, relativo ao acordo de paz.

Apesar de uma baixa adesão às urnas, o acordo entre a guerrilha e o governo foi recusado pelos votantes das áreas urbanas e pode ser retomado após novas negociações com partidos de oposição. Na maioria das áreas rurais o "sim" venceu no plebiscito.

"Na esfera urbana, que escuta e vê nos meios de comunicação os debates políticos, há muita resistência [contra a participação do novo partido das FARC]. Mas não sabemos qual vai ser o resultado da zona rural, e são esses lugares que podem surpreender na votação. Não está claro quais podem ser os níveis de participação regionais", disse a diretora da MOE.

Esta não é a primeira vez que a desmobilização de guerrilhas na Colômbia permite a participação política de seus membros. Nos anos 1990, deixaram as armas os grupos de esquerda M-19 (Movimento 19 de Abril), EPL (Exército Popular de Libertação), PRT (Partido Revolucionário dos Trabalhadores) e Quintín Lame.

O acordo com as FARC, no entanto, marca a desmobilização da maior guerrilha da Colômbia e da mais longeva da América Latina.

"A pergunta é que capacidade de resiliência tem o país para entender que um grupo tão controverso tenha essa participação [política]", acrescentou Alejandra Barrios.

Membros das FARC já anunciaram que o novo partido não deverá lançar um candidato à presidência, mas que poderá fazer alianças.

Segundo a diretora da MOE, até este momento os outros partidos, inclusive os de esquerda, não demonstraram interesse nessa aproximação com o grupo, para não assumir a rejeição eleitoral que esse passo pode provocar.

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