Prémio Europeu para o músico Jordi Savall
A laudatio exarada pelo júri presidido por Guilherme d'Oliveira Martins destaca o "artista e humanista" e o seu "contributo para a celebração da história multicultural da Europa através do seu rico património musical".
Pela sua parte, Savall declara-se "honrado e agradecido" pelo reconhecimento de uma carreira "dedicada à recuperação e divulgação do património musical do Renascimento e do Barroco espanhol e europeu", bem como do seu "empenho pessoal no diálogo intercultural entre Oriente e Ocidente, e a ligação de culturas diversas através da música" e, por outro lado, "o esforço para que a música, a beleza e a cultura possam chegar a um cada vez maior número de pessoas e de países e sejam acessíveis a todos os níveis sociais, sem exceção".
Já Plácido Domingo, presidente da Europa Nostra, fala de Savall como "uma voz que promove a paz e o diálogo através da celebração do nosso património cultural comum". Por fim, Guilherme d'Oliveira Martins ressalta a ação de Savall, o qual "utilizando a música como inspiradora "lingua franca" entre os europeus", contribuiu para "uma cultura de paz e de diálogo, que tem de fazer parte da tão necessária Nova Narrativa para a Europa".
Nascido em Igualada (Catalunha), a 1 de agosto de 1941, Jordi Savall é uma das maiores personalidades da música antiga, com mais de 40 anos de uma notável carreira. Além de ser considerado um dos maiores gambistas (intérprete de viola da gamba) em atividade, Savall é também maestro e musicólogo. Apresenta-se a solo, em ensembles pequenos ou à frente dos agrupamentos Hespèrion XX (rebatizado para XXI na mudança de século), Capella Reial de Catalunya e Le Concert des Nations, por si criados.
Os seus focos principais de interesse foram sempre a música sacra e profana do espaço espanhol da Idade Média, Renascimento e Barroco, com numerosas incursões no Renascimento internacional e noutros barrocos nacionais. O seu interesse no interculturalismo nasceu organicamente da sua exploração da herança da música sefardita: os judeus espanhóis que, expulsos da península pelos reis Católicos, se fixaram um pouco por todo o espaço mediterrânico, mas principalmente nos domínios da República de Veneza e do Império Otomano. Desde então, tem vindo a desenvolver projetos de redescoberta dos repertórios dessas paragens, de que é exemplo recente o projeto que dedicou à Arménia e que apresentou no ano passado na Gulbenkian. Este verão, Jordi Savall fará dois concertos no Festival de Salzburgo, um deles centrado no seu projeto dedicado ao "Apóstolo do Oriente" São Francisco Xavier.
Detentor de uma discografia impressionante, com inúmeras gravações premiadas, Savall criou em 1998 uma editora própria, a Alia Vox, e fundou ainda um festival de música em Fontfroide, perto de Narbonne, em plena região dos trovadores.
Em novembro de 2014, Jordi Savall recusou o Prémio Nacional de Música de Espanha, por, segundo disse, Espanha não cuidar do seu património musical, acusando as entidades oficiais de ignorância e de falta de interesse.
Foram ainda atribuídas menções especiais a Adrian Lloyd Hughes e a Rafael Fraguas, jornalistas culturais ativos, respetivamente, na Dinamarca e em Espanha.
O Prémio Europeu Helena Vaz da Silva, que honra a memória da intelectual portuguesa desse nome (1939-2002), foi instituído em 2013 pelo Centro Nacional de Cultura (CNC), em cooperação com a organização de defesa do património Europa Nostra (de que é presidente Plácido Domingo) e o Clube Português de Imprensa, contando ainda com o apoio da SEC, da Fundação Gulbenkian e do Turismo de Portugal. O Prémio distingue anualmente um cidadão europeu que se tenha notabilizado na proteção e divulgação do património cultural e dos ideais europeus, em suporte escrito, sonoro ou audiovisual.
Anteriores vencedores deste Prémio foram o escritor e pensador italiano Claudio Magris (2013) e o escrito e Nobel (em 2006) turco Orhan Pamuk. Juntando-se agora Jordi Savall, o painel de vencedores dá a este prémio uma feição muito mediterrânica.
A cerimónia de atribuição do prémio ocorrerá no próximo dia 12 de outubro, na Fundação Gulbenkian.