Preços dificultam um 'Natal digital'
Migas tem quatro anos e ainda nem sequer sabe o que é a escola. Hugo tem 21 e estuda Engenharia Informática no Instituto Superior Técnico de Lisboa. Pouco ou nada têm em comum, excepto o facto de serem fãs de jogos de computador.
Ao volante de uma máquina de simulação de ralis (onde nem sequer foi posta uma moeda), Migas lá vai dizendo, nos poucos momentos em que tira os olhos do ecrã, que gosta de "jogos de carros e motos" e que em casa tem uma Play- Station. Hugo já teve várias consolas, mas prefere jogar no PC.
Uma passagem pelas lojas e centros comerciais, sobretudo na concorrida altura da quadra natalícia, não deixa dúvidas não há idade para os amantes de videojogos.
Gonçalo Fialho, gestor de marketing da Sony Computer Entertainment em Portugal (responsável pela consola PlayStation), confirma a ideia "A PlayStation tem um target muito alargado. Temos adeptos de todas as idades." O responsável reconhece também que "o Natal é a altura de venda por excelência", logo seguida da apresentação de novos produtos "Tanto no lançamento da PlayStation2 como da PlayStationPortátil esgotámos os stocks em poucos dias".
Por isso, os períodos do Natal e da apresentação de novos produtos coincidem muitas vezes. Na semana passada foi lançado o primeiro UMD de música [uma espécie de CD com grande capacidade] para a PlayStationPortátil e está agendada para o final desta semana a estreia em Portugal da nova consola da Microsoft, a XBox 360.
Migas, no entanto, não está à espera de nenhuma prenda electrónica no sapato deste Natal. O tio, que vigia as "acelerações virtuais", explica "Os jogos são caros."
Pelos mesmos motivos, Hugo também não tem prevista nenhuma compra. Os preços levam-no a piratear os jogos. No entanto, admite que, algumas vezes, está disposto a ir "até aos 70 e tal euros" pela versão original daqueles títulos "que vale a pena ter na prateleira". De resto, dificilmente daria mais de 40 euros, "e tinha que ser um bom jogo".
Músicas de natal. Vera é estudante de Comunicação Social e Cultural na Universidade Católica. Apesar de ser entusiasta de jogos de computador (joga no PC, na Play-Station2 e tem ainda um GameBoyColor, que "já não tem uso"), o objectivo deste Natal é um leitor de músicas em MP3 "Ainda não pensei bem, há muita oferta, mas não tem que ser um iPod. Esses são muito caros."
Nuno Oliveira, da representação portuguesa da Apple (a empresa responsável pelo popular leitor de música), explica, no entanto, que os iPods são para várias idades e para muitas bolsas o iPod Shuffle (o mais barato da família iPod, onde não é possível escolher as músicas que se ouvem e cujo preço ronda os cem euros) "é orientado para jovens entre os 15 e os 20 anos". Já o novo iPod com vídeo, que chegou às lojas "ainda a tempo do Natal" e a preços de 333 e 447 euros (consoante a capacidade de armazenamento), destina-se a consumidores entre os 35 e os 44 anos.
As montras de Natal encheram-se de alternativas para quem quer leitores digitais. No entanto, Gonçalo Fialho defende que a tendência do mercado é para a "convergência" jogos, filmes, música, fotos, Internet, tudo no mesmo aparelho. Por seu lado, Nuno Oliveira a considera que a música digital é um mercado em crescimento em Portugal, sobretudo devido ao elevado número de vendas online.