Preços da energia: problema comum, resposta comum

Publicado a
Atualizado a

O inverno aproxima-se. Aumenta a urgência em responder ao aumento da inflação e, em particular, ao aumento dos preços da energia, bem como às consequências sociais e económicas da guerra na Europa. Além das iniciativas nacionais, como o pacote Famílias Primeiro do governo português, os 27 estados-membros estão a negociar medidas conjuntas, como a limitação dos preços do gás ou um imposto extraordinário sobre os lucros excessivos das empresas energéticas.

No entanto, mais de sete meses depois do início da guerra, alguns pensam ainda na gestão da crise só pelo prisma da política nacional. Há dias, de forma unilateral e apanhando os parceiros europeus de surpresa, a Alemanha anunciou um pacote de 200 mil milhões de euros para proteger a sua economia através de limitações ao preço do gás.

É, sem dúvida, uma medida brutal e positiva para alemães e para europeus. Sendo a maior economia da Europa, uma recessão na Alemanha arrastaria todos os países para o mesmo caminho.

Porém, a ausência de coordenação com os restantes parceiros europeus pode ter consequências para todos, incluindo a própria Alemanha. O Mercado Único é um sistema de interdependências. Ganhamos com a prosperidade do próximo; ninguém fica imune a uma crise nos seus parceiros.

Melhor teria sido, portanto, que além de apresentar o seu programa contra a crise, a Alemanha apoiasse uma resposta europeia, à semelhança da que evitou o colapso da economia e a consequente crise social durante a pandemia. Nem todos os países dispõem dos mesmos meios que a Alemanha para grandes programas sociais e de suporte à economia, que é o que realmente é preciso. Sem apoios europeus, alguns podem soçobrar à crise; que, qual efeito dominó, depois se alastra a outros e a outros... até chegar a todos.

Thierry Bretton e Paolo Gentiloni, Comissários europeus francês e italiano com as pastas do Mercado Interno e da Economia, reagiram à proposta alemã com um artigo de opinião. O título diz tudo: "Crise de energia: é necessária uma resposta europeia comum e solidária".

O Ministro das Finanças e líder do partido liberal na Alemanha, Christian Lindner, respondeu imediatamente, rejeitando qualquer resposta europeia baseada em dívida comum.

Sucede, no entanto, que a atual configuração da União Económica e Monetária está incompleta e isso tem consequências, o que se faz sentir de forma particularmente aguda em momentos de crise. Vivemos num mercado comum e temos uma política monetária comum. Mas a política orçamental existe apenas a nível individual de cada estado-membro. Se continuar a valer o cada um por si, no final teremos mais divergências e estaremos todos mais fracos.

Perante a gravidade da crise-Covid, foi possível finalmente acordar a criação de um orçamento comum, incluindo a emissão de dívida mutualizada para financiar essas políticas, mas apenas de caráter temporário.

Esta nova e muito severa crise deveria ser prova suficiente para convencer os mais céticos de que esses instrumentos têm de ser permanentes, mas a obstinação ideológica impede-os de ver as evidências. Precisamos de mais Europa, já. Senão, no final, acabamos todos a perder.

O mantra liberal - menos Estado, menos impostos - teve um confronto com a realidade. Até os mercados financeiros, o alfa e o ómega das suas políticas, rejeitaram as suas propostas, obrigando à intervenção do Banco de Inglaterra. Truss já recuou a toda a velocidade. A política liberal em todo o seu esplendor derrotada pelos mercados, quem imaginaria tal cenário? A celebrar um mês no cargo, todas as capas de jornais são sobre se o consegue manter.

Eurodeputado

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt