O DN fez esta segunda-feira chamada de capa da notícia de que o turismo necessita de 45 mil trabalhadores..Trata-se de um problema generalizado em Portugal: o país precisa de pessoas. De acordo com os dados dos últimos Censos, entre 2011 e 2021, Portugal perdeu cerca de 200 mil residentes. A isto soma-se um envelhecimento crescente da população, com a consequente saída de pessoas do mercado de trabalho..Portugal depende de um conjunto de atividades que assentam em mão de obra intensiva como o turismo, a restauração ou a agricultura. Pode não ser o modelo ideal, mas é o que tem permitido ao país sair da crise financeira em que esteve mergulhado..Já o ano passado se verificou, sobretudo nos meses de verão, falta de mão de obra para estas atividades..Entretanto foram introduzidas alterações à lei da imigração com o objetivo de facilitar a atração de pessoas: o acordo no âmbito da CPLP que facilita a obtenção de vistos, bem como a atribuição do visto para procura de trabalho..Estas alterações têm sido objeto de ampla controvérsia, entre especialistas e líderes políticos, sobretudo em face de polémicas, falhas de integração e abusos, como os ocorridos em Odemira ou na Mouraria. Sabe-se agora que também não resolveram o problema da falta de pessoas..Do mesmo modo, foi, finalmente, aprovada a criação da Agência para a Integração, Migrações e Asilo, a qual entrará em funcionamento em 29 de outubro..Contudo, esta nova agência limita-se a receber parte das funções do SEF e do Alto-Comissariado para as Migrações, sem que lhe tenham sido atribuídas competências para verdadeiramente atrair as pessoas de que precisamos..Acresce que a agência vai entrar em funcionamento com centenas de milhares de processos pendentes, sem que se vislumbre forma de os processar atempadamente..Ao mesmo tempo, este mês, a União Europeia acordou num novo pacto para as migrações e asilo que, essencialmente, assenta no modelo de acordo com a Turquia. Este modelo consiste em garantir que os países vizinhos impedem que os fluxos migratórios cheguem às fronteiras da União Europeia, não assegurando um verdadeiro mecanismo de imigração legal e seguro..Perante este cenário, é claro que o país tem de fazer alguma coisa que garanta, por um lado, a atratividade da mão de obra de que necessitamos e, por outro, a dignidade das pessoas que recebemos. Não é possível ir aprovando medidas de circunstância que não resolvem a falta de trabalhadores, acabando por expor os que nos procuram a situações de tratamento indigno e desumano. Até porque isso não abona a favor da imagem do país enquanto destino para se viver e trabalhar..A solução não passa por fechar o país à imigração - revogando os mecanismos existentes -, nem por alargar, sem critério, as formas de entrada..Passa antes por três medidas simples: a) garantir que todos os processos de vistos pendentes são decididos até ao início das funções da nova agência;.b) atribuir à agência competências que lhe permitam promover o país enquanto destino para se viver e trabalhar, garantindo a correta integração das pessoas;.c) garantir que os mecanismos de abertura, como o visto para procura de trabalho, asseguram as condições e dignidade dos seus beneficiários (através, por exemplo, de lançamento experimental de um sistema de pontos)..Neste campo, até por ser muito concorrencial e controverso, não nos vai valer a União Europeia. Dentro dos limites por esta impostos, com rigor e criatividade, temos de encontrar as nossas próprias soluções. Nunca como agora precisámos tanto de pessoas, muitas querem vir para Portugal. Não parece uma tarefa impossível!.Presidente do conselho de administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos