Prata de toneladas de radiografias é ouro para acções humanitárias

Desde 1996 que a AMI tem convidado os portugueses a doarem as suas radiografias antigas e sem valor de diagnóstico. Estas   são depois recicladas sendo a prata e plástico obtidos vendidos. Verbas angariadas são usadas para complementar financiamentos da organização.
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Como angariar dinheiro e proteger o ambiente ao mesmo tempo? A Fundação de Assistência Médica Internacional (AMI) descobriu um método em 1996: a recolha de radiografias antigas e sem valor de diagnóstico. Desde então, a organização tem anualmente apelado à solidariedade e responsabilidade ambiental dos portugueses para contribuir para esta causa. Em 14 anos já angariou 1,162 milhões de euros para apoiar as suas missões humanitárias.

Segundo o coordenador da campanha de recolha de radiografias antigas - que este ano se realizou de 4 a 25 deste mes -, desde 1996 a AMI já recolheu e reciclou 1153,03 toneladas de películas. "A população reagiu muito bem" ao conceito de doar as suas radiografias antigas para reciclagem", explica Luís Lucas.

No primeiro ano foi de imediato estabelecido um recorde, ainda hoje por bater, de 150 toneladas de películas recolhidas. "Havia muitas para recolher porque até ali as pessoas guardavam aquilo religiosamente em casa", frisa Luís Lucas, lembrando que "muita gente não sabia até quando é que as radiografias tinham valor de diagnóstico e por isso guardava-as", salienta o coordenador da campanha. Com a agravante de que, nessa altura, "não havia soluções para reciclagem deste tipo de resíduos".

O coordenador da campanha explica que, além do valor monetário recolhido, a campanha tem também um valor simbólico, já que "a AMI introduziu um conceito novo em Portugal, de recolha deste tipo de resíduos e que depois acabou por ser seguido por outras empresas e instituições, em diferentes moldes". "Este é um projecto com particular importância para a AMI", frisa.

O percurso das radiografias, explica Luís Lucas, é simples. A população entrega as radiografias nas farmácias, sem relatórios, envelopes ou folhas de papel, sendo depois recolhidas e levadas para os armazéns da AMI, no Porto e em Lisboa. As películas são depois levadas para empresas que fazem a reciclagem, sendo então "queimadas através de um processo de reciclagem que permite retirar a prata", salienta Luís Lucas.

O plástico obtido é sobretudo vendido para a China, um dos maiores compradores mundiais desta matéria-prima. "A prata é vendida nos mercados mundiais", frisa. Cada tonelada de radiografias reciclada dá origem a cerca de 10 quilos de prata. A sua venda ajuda a AMI a completar financiamentos que lhe permitem partir para vários pontos do mundo onde a sua ajuda é precisa e melhora ainda a assistência prestada em Portugal aos mais desfavorecidos.

Embora a campanha só se realize uma vez por ano, Luís Lucas conta que "muitas farmácias vão aceitando as radiografias dos utentes ao longo do ano, sendo depois entregues na altura da campanha de recolha". Outro dos pontos de recolha existentes, explica o responsável da campanha na AMI, são os hospitais e centros de saúde. "Ao longo do ano estas instituições podem pedir-nos para recolher as películas que eles próprios vão acumulando ou que os doentes vão lá deixando, o que é feito de forma gratuita", frisa Luís Lucas.

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