Prata da casa e Jazz parisiense na abertura do Angrajazz

Com Ricardo Toscano a acompanhar no Saxofone, a Orquestra Angrajazz abriu a primeira noite do festival. Em trio, René Utreger provou que nem os standards envelhecem nem os pianistas perdem magia.
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A Orquestra que nasceu do festival e um mestre do piano francês abriram ontem a 17ª edição do Angrajazz, em Angra do Heroísmo, Terceira, Açores. Um passeio pelo reportório de alguns dos grandes clássicos, entre o luxuoso formato de uma big band e o clássico trio do Jazz, de piano, contrabaixo e bateria.

Se o festival nasceu em 1999, em 2002 estreava-se no cartaz a Orquestra Angrajazz. Quatro anos depois o primeiro CD e já este ano o maior concerto - no "Lisboa na Rua" para três mil pessoas. Com saxofones, clarinetes, trompetes, trombones e trompas em palco, a noite começou ao som das composições de George Gerswhin, passou rápido a Pat Metheny e Cole Porter e teve na versão de "Goodbye Pork Pie Hat", de Charles Mingus, um dos seus pontos altos. Mas ontem, em palco, a Orquestra Angrajazz contou com uma ajuda especial: Ricardo Toscano, uma das grandes promessas do Jazz nacional. Com o carimbo de sobredotado, o mesmo que lhe permitiu entrar aos 17 anos para a licenciatura de Jazz na Escola Superior de Música, e vários prémios no currículo, mesmo antes de completar 25 anos, não desiludiu e foi o seu saxofone alto quem mais brilhou em "Take the A Train", original de Duke Ellington, a música que fechou o primeiro concerto do festival.

Orientada por Claus Nymark e Pedro Moreira a Orquestra Angrajazz acertou o ritmo à plateia que aguardava a visita do trio liderado pelo francês René Urtreger. Senhor de 81 anos, acompanhado por Yves Torchinsky (contrabaixo) e Eric Dervieu (bateria), brincou quando disse que não se lembrava do título dos seus originais, mas deixou um conselho. "A idade não existe. O que importa é ter paixão, até pode ser por uma coleção de selos, uma mulher ou um homem, não interessa. Ainda há umas semanas compus esta ...", disse, em inglês, até porque, para seu espanto, "as pessoas percebem melhor, mau inglês do que bom francês". E dessa lembrava-se do nome, "Timid".

Parisiense, estudante de piano desde os 4 anos, profissional desde os 19, idade com que venceu o primeiro concurso, em 1961 foi premiado pela Academia Francesa de Jazz e em 2010 passou a Cavaleiro da Legião de Honra. Em Paris, tocou com Lester Young, Chet Baker, Stan Getz e gravou com Miles Davis a banda sonora para Ascenseur pour l"echafaud, filme francês de 1958. E ontem, o à vontade ao enfrentar os clássicos foi evidente. Passou por Dizzy Gillespie, Thelonious Monk, Charlie Parker e até por Bud Powell e a sua "Un poco loco". De Count Basie tocou "Easy Does It" e com o seu original, um "blues parisiense", deixou o público a pedir mais. Impossível, não só os relógios já se aproximavam da uma da madrugada como a idade tanto dá requinte nas teclas como impõe tanto cuidado quanto respeito.

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