Poupem-se os bancos

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Há uns anos, enquanto bebia uma cerveja, ouvi uma pessoa reclamar: "Esta imperial tem défice de gás!" Foi durante o Governo de Durão Barroso, o País estava de tanga e os portugueses começaram aí uma longa e forçada pós- -graduação em literacia financeira. Hoje, toda a gente recheia as conversas com termos financeiros. Uma das palavras mais usadas é contágio. Contágio não da gripe A; mas o contágio irlandês. Será que depois da Irlanda será Portugal o próximo a recorrer ao fundo de resgate? É provável que sim, mas anda por aí outro contágio perigoso: o da dívida soberana portuguesa afectar as contas dos bancos nacionais. Explico-me: embora o nosso sistema financeiro esteja bem capitalizado, o facto de a dívida pública portuguesa interessar cada vez menos aos investidores estrangeiros deixa para os nacionais a missão de assumirem uma fatia cada vez maior do bolo. Segundo o Citigroup, a exposição dos bancos nacionais à dívida do Estado aumentou 88% desde o último trimestre de 2008 (quando o BCE passou a aceitar títulos da dívida como colateral). Quase 90% não é coisa pouca. Se um dia Portugal for incapaz de pagar o que deve, os nossos bancos terão de assumir uma parte importante das perdas, o que os deixaria - a eles e a nós - numa situação muitíssimo delicada, como na Irlanda. Felizmente, para já apenas pouco mais de 20% da dívida soberana nacional estará em mãos portuguesas. Se fôssemos japoneses ou canadianos era pior: 90% da dívida destes países foi comprada internamente.

Comprimidos

Credores portugueses

Os números são de Março, mas ainda é aqui que está estacionada a dívida soberana portuguesa: França (15 mil milhões), Espanha (7,8 mil milhões), Alemanha (7,3 mil milhões), Reino Unido, (1,9 mil milhões), Japão (1,7 mil milhões), Itália (1,6 mil milhões), Estados Unidos (1,1 mil milhões).

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