Criar uma Fórmula 1 mais simples e moderna, desfazendo as iniciativas mais polémicas e mal-sucedidas do último decénio: é este o caminho traçado. A nova era na modalidade-rainha do automobilismo começa agora, com o fim do longo reinado de Bernie Ecclestone. Ao volante vai estar um bigode icónico da 21st Century Fox, Chase Carey, tendo um dos estrategas mais bem sucedidos do paddock, Ross Brawn, como co-piloto..A revolução estava na forja desde setembro, quando a Liberty Media - empresa de conteúdos mediáticos que tem como acionista principal o magnata estado-unidense John Malone - chegou a acordo com a Delta Topco para a aquisição dos direitos do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, por oito milhões de dólares (7,45 milhões de euros, ao câmbio atual). O negócio foi ontem concluído, sendo o anúncio acompanhado do afastamento de Bernie Ecclestone das funções de diretor-executivo da modalidade..O britânico, de 86 anos, vai continuar oficialmente ligado à F1 "presidente honorário". Contudo, a destituição é um sinal de que, ao fim de mais de quatro décadas, a era do polémico Bernie (antigo piloto, agente, dono de escuderia e diretor-executivo da modalidade) chegou ao fim. "A F1 precisa de um novo começo. Precisa de ser gerida de forma diferente do que foi nos últimos anos", resume o novo presidente e diretor-executivo, Chase Carey..Carey - que um dia foi considerado pela revista Vanity Fair o segundo homem com bigode mais poderoso do planeta (apenas atrás do jornalista e escritor Thomas Friedman) - é um novato no meio do automobilismo. O norte-americano, de 62 anos, fez quase toda a carreira no grupo mediático Fox, onde começou a trabalhar na década de 1980 - exercendo agora funções de vice-presidente na 21st Century Fox. No entanto, já tem uma estratégia com contornos bem definidos, para revitalizar a Fórmula 1..O plano passa por tornar a modalidade-rainha do automobilismo mais simples e moderna, sem esquecer a sua identidade. Carey explicou à BBC que pretende expandir a Fórmula 1, pensando em "maiores e melhores eventos", com mais presença nos EUA - além da atual corrida em Austin (Texas) - mas sem dar continuidade ao abandono das pistas europeias que vinha a ser levado a cabo pela gestão de Ecclestone. "Temos de manter as tradições para que haja valores na Fórmula 1", sublinhou o novo diretor-executivo, garantindo que (apesar de especulação) o Grande Prémio do Reino Unido, que se corre anualmente em Silverstone, se vai continuar a realizar..De resto, o futuro passa pela maior abertura às novas tecnologias que sempre foi enjeitada por Ecclestone. "Para sermos competitivos no mundo atual precisamos de encontrar formas de nos ligarmos e de entusiasmar os fãs. São precisas todas as plataformas digitais disponíveis, para contar as histórias das rivalidades entre as estrelas", descreve o novo patrão da F1, defendendo que cada Grande Prémio pode ser como o Super Bowl [a final da liga de futebol americano dos EUA, maior evento desportivo do país], "com música, entretenimento e o envolvimento de todos os participantes"..Todavia, para além dessa transformação do "grande circo", é preciso mexer naquilo que realmente atrai os fãs: as corridas. Essa será a função do novo diretor técnico da modalidade Ross Brawn, antigo responsável de Benetton, Ferrari e Mercedes. O engenheiro, um dos mentores dos sucessos de Michael Schumacher e fundador da Brawn GP (campeã de pilotos e construtores em 2009), diz que é preciso descomplicar.."Acho que a chave e o objetivo para o futuro é simplificar. Tenho assistido à F1 nos últimos anos como espetador e às vezes não percebemos que caminho se vai seguir na prova", apontou o britânico, de 62 anos, em declarações à Radio 5Live, defendendo regras menos apertadas e uma menor intervenção dos comissários durante as provas.