O diretor da Transparência e Integridade, Associação Cívica (TIAC) diz que cada vez mais portugueses querem denunciar casos de corrupção, mas têm medo de sofrer represálias devido à ineficácia de um sistema de proteção, que apenas existe no papel.."Os portugueses querem denunciar mais a corrupção do que eventualmente há uns anos, porque o país está a sentir muito diretamente os efeitos da corrupção e o impacto económico e social, que se traduz depois nestas políticas de austeridade que têm de cobrir muitos dos maus negócios, desvios e corrupção", disse o diretor executivo da TIAC, João Batalha, em entrevista à agência Lusa, quando se assinala o Dia Internacional Contra a Corrupção..João Batalha adiantou que os portugueses querem ter um papel mais ativo, mas ao mesmo tempo sentem que "ainda há obstáculos muito grandes para fazerem denúncias de forma segura", sentindo-se desprotegidas porque não há um sistema de denunciantes a funcionar..Em Portugal há um princípio genérico na lei sobre a proteção dos denunciantes, mas depois "na prática não se traduz em nada"..Como exemplo, referiu, que o cidadão que apresenta uma queixa não sabe a quem se dirigir para pedir proteção e quem é o responsável por fiscalizar..[citacao:As pessoas sentem medo de serem isolados no seu local de trabalho, têm medo de repressões e represálias].João Batalha defende "ajustes na lei no sentido de alargar os princípios de proteção" e considera ser preciso "criar instituições e estruturas capacitadas para acompanhar as pessoas para lhes dar proteção e garantir o anonimato quando for preciso e para fiscalizar se as pessoas envolvidas num determinado processo estão a cumprir a lei e não estão a exercer pressões indevidas ou represálias a quem denunciou"..O diretor executivo da TIAC defendeu também uma reforma no combate à corrupção: "Há uma dispersão muito grande de organismos, de competências que não permitem ajudar a encaixar as peças do puzzle como deve ser"..Em Portugal "vai-se legislando sob a pressão de organismos internacionais, mas não há verdadeiramente uma vontade de reunir vários mecanismos" e criar "uma infraestrutura de combate à corrupção que assegure a competência e integridade das instituições"..O mesmo responsável considerou que há "falta de compromisso e empenho ao nível político" em criar uma verdadeira estratégia de combate à corrupção que permita "estabelecer metas e responsabilizar as instituições pelo cumprimento de objetivos", além de "prevenir a corrupção, investigá-la e puni-la quando acontece"..[artigo:4914035].No entanto, o Ministério Público está "mais empenhado em perseguir a grande corrupção", sendo exemplo os recentes casos dos "visto gold" e do processo que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates.."Casos como os dos vistos 'gold' ou de José Sócrates são um sinal de que a justiça está mais empenhada em investigar as suspeitas e segui-las. Estas grandes investigações são um sinal muito importante que o MP está mais empenhado, embora não esteja mais capacitado, porque continua a ter enormes deficiências de recursos e de meios. Onde continua a faltar compromisso e empenho é no nível político", sustentou