Portugueses pescam 15 mil toneladas de tubarão ano

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Pesca acessória. A captura do tubarão é feita de forma isolada, mas só nos últimos meses foram pescados 600 toneladas no Algarve. Das 108 espécies de peixes cartilagíneos pescados no Atlântico Norte, incluindo Portugal, encontram-se 74 tubarões. Tubarão-azul e anequim são as mais frequentes

Na Europa foram detectados 40 ataques nos últimos 50 anos

A pesca do tubarão está em expansão em Portugal atingindo actualmente cerca de 15 mil toneladas por ano. Só no Algarve registou-se uma captura de 600 toneladas nos últimos meses, indicou um especialista da Universidade do Algarve.

A pesca do tubarão em Portugal é acessória e não uma pesca alvo (dirigida ao tubarão), mas quando chega à rede é comercializado de igual modo nas lotas portuguesas, à semelhança do outro pescado. Muitos tubarões de profundidade são também apanhados em Portugal, como a "lixa" e a "gatas" (pretos de olhos verdes), por pescadores que lidam com a faina do peixe-espada preto e cherne através de anzol.

No Atlântico Norte, incluindo Portugal, foram registadas, em 2006, 108 espécies de peixes cartilagíneos (com esqueleto cartilagíneo), entre os quais 74 tubarões, 27 raias e sete quimeras. Nas águas portuguesas existem espécies potencialmente perigosas, como o tubarão-branco, o tubarão-anequim e o tubarão-martelo, mas não existem relatos de ataques, nem há registo de nenhuma vítima mortal, disse Rui Coelho. Já na Europa foram registados cerca de 40 ataques de tubarões nos últimos 50 anos, quase todos no mar Mediterrâneo, nomeadamente em França, Grécia e Itália (o último ataque mortal foi registado em Itália em 1989).

Nas últimas duas décadas foi registada uma média de 60 ataques por ano de tubarões a nível mundial, que provocaram seis vítimas mortais, adiantou o especialista em biologia pesqueira, mencionando que 75% dos ataques mundiais ocorrem nos EUA, África do Sul, Austrália e Brasil. "Apesar da fama dos ataques de tubarão, a probabilidade de uma pessoa ser atacada e morta por um tubarão é realmente baixa", principalmente na costa portuguesa, contou à Lusa o especialista da Universidade do Algarve, Rui Coelho. O tubarão é um predador de topo caracterizado por ter crescimento lento, vida longa, baixa fecundidade e mortalidade natural reduzida por não ter predadores naturais.

Pesca em iate de luxo

Um isco fresco e rico em sangue de peixe, boas doses de paciência e força de braços são ingredientes necessários para a prática da pesca desportiva ao tubarão no Algarve. O negócio, contudo, regista este ano quebras na ordem dos 60% e a culpa é da crise generalizada. O GPS (sistema de localização geográfica) está ligado, soltam-se as amarras do iate Sophie e deixa-se lentamente o cais "Q" da luxuosa marina de Vilamoura, no Algarve, para tentar pescar o maior predador dos oceanos: o tubarão. Quarenta minutos depois a uma velocidade de 20 nós (37 quilómetros/hora), a tripulação entra na zona pesqueira e lança a cilada a 89 metros de profundidade. Balões vermelhos para assinalar onde foi lançado o isco são deitados ao mar a par com a linha de pesca. Pequenos truques dos marinheiros contemporâneos.

Oriundos da cidade de Moscovo, o casal russo Alexander, 38 anos, e Tatiana, 32 anos, e mais dois escoceses da zona de Glasgow, o jovem Stuart, 14 anos, e o seu pai Duncan contam com a ajuda do comandante de bordo Miguel Benedy, 42 anos, e do simpático pescador e auxiliar João Páscoa, para concretizar o sonho de pescar um tubarão.

A única certeza que os tripulantes têm é que se capturarem algum tubarão com a cana de pesca e o cinto especial de combate, o final vai ser sempre feliz, pois nenhum tubarão vai morrer ou ficar ferido. Uma das leis da pesca desportiva manda que se devolva o animal ao habitat natural.

Tubarão-azul no Algarve

No caso de o tubarão atingir uma determinada medida - o tubarão-azul, o que mais aparece na costa algarvia, só pode ser capturado com mais de 2,5 metros de comprimento -, o cliente que o pesca deve entregar o peixe a uma instituição de solidariedade. Além do tubarão-azul, conhecido pelos pescadores por "tintureira" porque larga uma tinta escura, também se pesca nas águas do Algarve o tubarão-anequim (conhecido como o mais feroz e agressivo dos tubarões), o tubarão-martelo (oitavo mais perigoso para o homem, cujo focinho é largo em forma de martelo), cação, pata-roxa ou tubarão-raposa (espécie comum de águas tropicais).

O tubarão-branco, tornado célebre em 1975 pelo filme "Tubarão", do realizador Steven Spielberg, é o maior peixe predador - pode atingir 7,5 metros de comprimento e pesar 2,5 toneladas - e já apareceu no Algarve, recorda o comandante do iate Sophie. "Há dez anos apanhou-se um tubarão-branco com 1200 quilos perto da praia de Olhos de Água, Albufeira", lembra Miguel Benedy, neto e filho de pescadores. Outra das capturas que guarda no seu imaginário foi realizada em 2007 aquando da visita do presidente da República do Malawi, Bingu wa Mutharika, a Portugal, durante a qual aquele governante conseguiu pescar um tubarão-azul de 260 quilos, doado depois ao Refúgio Aboim Ascensão - Emergência Infantil.

Apanhar um tubarão-azul de metro e meio pode ser uma tortura para a paciência, mas a tripulação do Sophie portou-se à altura e esperou pacientemente que um espécime picasse o isco. O combate durou cerca de 10 minutos com a adrenalina a ferver. Correu tudo bem e, no fim, o comandante e o auxiliar conseguiram catalogar o animal. Depois de levar um beijo do pescador João Páscoa, o tubarão-azul foi libertado no mar. "Dou sempre um beijo de despedida", confessou, recordando que alguns dos peixes catalogados na região do Algarve, são depois avistados em Cabo Verde ou no Golfo do México. Jornalista da LUSA

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