O diretor do Instituto de Ciências Sociais (ICS) analisou os dados obtidos na 6.ª edição de um estudo europeu, "European Social Survey" (ESS), com 23 países, e concluiu que, "Portugal, Polónia e Eslovénia são os países europeus com níveis mais baixos, quer de confiança interpessoal, quer de confiança nas instituições políticas".."Em Portugal, a perceção da eficácia do sistema político no que toca nomeadamente à educação e à saúde, é muito baixa e isso leva a que a confiança nas instituições políticas no seu conjunto seja também baixo", explicou Jorge Vala à agência Lusa. ."Nem fomos educados a ajudar, nem fomos educados a perceber no outro uma potencial fonte de ajuda, em caso de necessidade", salientou..O especialista falava à margem de um seminário sobre os resultados ESS relacionados com "significados e avaliações da democracia", uma das vertentes do estudo sobre as atitudes sociais dos europeus..É nos países nórdicos, como Finlândia, Suécia, Noruega, Dinamarca e, em parte na Holanda e Suíça, que a confiança interpessoal e nas instituições é mais elevada..A confiança nas instituições políticas decorre de um sentimento geral da confiança em cada um e, se em Portugal a confiança nas pessoas enquanto indivíduos é baixa, "percebe-se que também seja baixa a confiança" nas entidades públicas..Ao contrário, nos países onde a confiança nas instituições é mais elevada, a avaliação e perceção que têm da eficácia do poder político é positiva..A desconfiança dos portugueses nos seus pares e nas instituições tem uma explicação cultural.."A confiança que temos uns nos outros decorre de processos de socialização que nos ensinaram", explicou Jorge Vala, coordenador nacional do ESS..Desde criança, aprende-se, por um lado, a ter manifestações de apoio aos outros, e como é importante a inserção em redes sociais de ajuda e por outro a socialização destaca o sentimento de que, se for preciso, os outros podem ajudar, e ninguém está sozinho nos problemas individuais ou financeiros. .No caso de Portugal, "a nossa socialização não foi feita no quadro destas duas direções, nem fomos educados a ajudar nem fomos educados a perceber no outro uma potencial fonte de ajuda, em caso de necessidade", frisou.."Isto acontece, de forma muito radical, quer em Portugal, quer na Polónia, quer na Eslovénia", concluiu o diretor do ICS, que é uma das entidades portuguesas que participa no ESS. .Os dados recolhidos na 6.ª edição do ESS revelam que os portugueses estão cada vez menos satisfeitos com a democracia, o que é "compreensível, especialmente tendo em conta como a degradação das condições sociais e económicas nos últimos anos".