Portugueses na Venezuela apreensivos com redução de dólares para viagens
A comunidade portuguesa radicada na Venezuela está "apreensiva" com a decisão do Governo venezuelano de reduzir a quantidade de 'divisas' que os nacionais e estrangeiros radicados no país estão autorizados a usar nas suas viagens ao estrangeiro.
"Obviamente é uma decisão que nos prejudica a todos, principalmente a quem quer viajar para Portugal ou para outro país da Europa durante algum tempo, porque as 'divisas' que nos autorizam praticamente não chegam para cobrir os gastos [mínimos] de hotel e da estadia", disse à Lusa o presidente da Câmara Venezuelana Portuguesa de Comércio e Turismo.
Segundo José Luís Ferreira, a medida vem agravar as dificuldades para sair da Venezuela e para viajar ao estrangeiro, num momento em que "o primeiro obstáculo é conseguir uma passagem em bolívares, porque para a maioria dos destinos os bilhetes são pagos em dólares".
Na Venezuela vigora, desde 2003, um apertado sistema de controlo cambial que impede a livre obtenção de moeda estrangeira no país, sendo necessário pedir às autoridades para ter acesso aos dólares para consumos durante as viagens ao estrangeiro, que uma vez autorizados estão condicionados ao uso de cartão de crédito.
Uma providência do Ministério de Economia e Finanças da Venezuela, datada de 10 de abril de 2015, estabelece novas normas para aceder às 'divisas', reduzindo a quantia que os cidadãos, nacionais e estrangeiros, passam a dispor anualmente para as suas viagens.
No caso de Portugal e outros países da Europa, África e Oceânia, os viajantes passam a dispor de 1.000 dólares (ou equivalente em euros) para uma viagem de um a sete dias, em vez dos 2.000 que até agora eram autorizados.
Em vez de 3.000 dólares passam a dispor de 2.000 dólares para viagens com 15 ou mais dias de duração e se a duração for de oito a 14 dias o valor autorizado oscila entre 1.125 e 1.875 dólares.
Segundo José Luís Ferreira, com as dificuldades económicas e com esta nova medida, "as pessoas vão viajar menos, deixar de viajar ou reduzir o tempo de viagem".
A redução das 'divisas', segundo a comerciante Maria de Andrade, 55 anos, "influenciará fortemente os recursos que poderão ser usados, porque nem todas as pessoas têm contas em Portugal, nem cartão de crédito de um banco estrangeiro".
"Para mim é difícil conseguir euros. Para as minhas viagens sempre contei com os três mil dólares que o Governo autorizava e ainda assim tinha que ajustar os gastos para poder estar entre 45 dias e dois meses na Madeira, mesmo ficando em casa de família, mas agora terei que ver como fazer", disse.
Entretanto vários bancos privados venezuelanos notificaram hoje os clientes que, segundo uma providência do Centro Nacional de Comércio Exterior, deixarão de poder processar os pedidos de autorização de divisas para viajar, porque essa função passou a ser exclusiva apenas da banca pública.
Segundo a Aliança Nacional de Consumidores, pelo menos cinco milhões de usuários de cartões de crédito vão ser obrigados a migrar da banca privada para a pública para poderem aceder às divisas.