Portugueses apostaram 31 milhões por dia em jogos online em 2022

Números divulgados pelo Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos revelam ainda que o Estado encaixou 209 milhões em impostos sobre o setor.
Publicado a
Atualizado a

O setor das apostas online em Portugal voltou a crescer no último trimestre. No entanto, em altura de Mundial (aconteceu de 20 de novembro a 18 de dezembro), a proporção de receitas brutas foi, relativamente a períodos homólogos, a mais baixa (43,8%) para apostas desportivas. Em sentido contrário, a dos jogos de fortuna ou azar em ambiente online aumentou 56,2%.

Só em apostas desportivas, os jogadores investiram, em 2022, 1.482,1 milhões de euros. Os jogos de fortuna ou azar representaram um volume total de 9.938,8 milhões. Isto é: no último ano, os apostadores investiram um total de, aproximadamente, 31 milhões de euros por dia.

O valor de receita bruta para os operadores - que o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SIRJ) define como "a diferença entre o montante total das apostas realizadas e o valor atribuído em prémios" - é de 656,2 milhões de euros.

Deste montante, o Estado encaixou aproximadamente 209 milhões de euros graças ao imposto especial sobre o jogo online. Deste valor, segundo o decreto-lei, "25 % constitui receita própria para a entidade de controlo, inspeção e regulação" e 37,5% são receita dos clubes, entidades desportivas ou federações.

Os dados constam do mais recente relatório do setor, divulgado pelo SRIJ. Ao mesmo tempo, foi divulgado outro documento, este sobre a atividade do jogo em Portugal em casinos, sala de máquina e de bingo que revela que, face ao trimestre anterior, o investimento diminuiu 4,9% (o que significa uma perda de 67,2 milhões de euros).

É importante referir que todos estes números não englobam os jogos da Santa Casa, que desde 2021 que não divulga o relatório e contas.

Mas como se explicam estes números todos? Ouvido pelo DN, Ricardo Domingues, presidente da Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online (APAJO) aponta alguns fatores. "Acho que há ainda muita influência da pandemia", considera. "Durante o período da covid-19, as pessoas mudaram os seus hábitos. Não só em termos de apostas, mas também em relação às compras, por exemplo. Parece-nos que os números começam, agora, a mostrar e a normalizar a taxa de crescimento desta área".

Isso explicará, em parte, o aumento de jogadores registados nas plataformas online. Segundo o relatório do SRIJ, o aumento foi de 54,3% em relação ao trimestre anterior. Ou seja: houve mais 300 mil pessoas a jogar em ambiente digital. Antes, parte destes utilizadores, poderiam estar a jogar em casinos físicos, por exemplo, explica o presidente da APAJO, que acrescenta: "Os montantes são baixos. É possível que sejam apostadores casuais."

Além desta mudança nos hábitos, Ricardo Domingues faz outra ressalva: "O setor é relativamente recente [a legalização surgiu em 2015, pelo governo de Passos Coelho] e ainda há uma percentagem considerável de jogadores a migrar dos operadores ilegais para os regulados." Segundo o responsável, um estudo feito pela Aximage para a APAJO apontava que, em 2022, cerca de 15% dos jogadores migraram do mercado ilegal para o regulado. Outro dado que demonstra isto, é, de acordo com Ricardo Domingues, o facto de "o aumento de jogadores não ser proporcional ao das receitas brutas".

Com este aumento dos jogadores nas plataformas reguladas, o número de utilizadores autoexcluídos também aumentou (mais 9,3%).

No fundo, a autoexclusão é um mecanismo que está ao dispor nas plataformas reguladas para permitir que os jogadores parem de jogar, se assim entenderem. Há, inclusive, formas diferentes de o fazer: os utilizadores podem excluir-se por tempo indeterminado ou não. Fazê-lo numa plataforma não significa, no entanto, que seja autoexcluído de todas aquelas em que se tem conta (para isso terá de o fazer junto do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos, através de uma parte específica do site).

Mas, explica Ricardo Domingues, o aumento dos autoexcluídos não se deve, necessariamente, a um vício. "Encaramos isso com naturalidade. Com o mercado regulado e com as plataformas a apostarem no tipo de comunicação para sensibilizar para estas questões. Se o mercado cresce, é natural que isso aconteça", considera. Há, no entanto, uma ressalva que deve ser feita, segundo o presidente da APAJO: "Autoexcluídos não significa que haja pessoas a ficar viciadas. Verificamos muito, sobretudo no final dos meses, que há utilizadores que o fazem, até, por uma questão de controlo de gastos, por exemplo. Essa é uma estratégia que saudamos.

Tal como em muitas outras áreas, o jogo pode ser viciante. Há, no entanto, mecanismos para prevenir e tentar controlar eventuais casos.

Desde abril de 2015 que o setor das apostas online é regulado. Isto significa que, além do Estado ganhar dinheiro com o volume de apostas, há também ferramentas como a autoexclusão. No fundo, isto permite que, quem queira, possa autoexcluir-se das plataformas. Caso seja intenção fazê-lo de todas ao mesmo tempo, é necessário aceder ao site do SRIJ e seguir os passos necessários. Se não for assim, o utilizador excluir-se-á apenas de uma plataforma de cada vez.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt